sexta-feira, 29 de julho de 2011

Sexta de Música #15

Tudo é relativo
Quando te fazer feliz
Me faz feliz
Se a história for
Sempre assim
Melhor pra mim...


quinta-feira, 28 de julho de 2011

Quinta de Poesia #15

CANTO A MIM MESMO

Estão todas as verdades
À espera em todas as coisas:
Não apressam o próprio nascimento
Nem a ele se opõem;

Não carecem do fórceps do obstetra,
E para mim a menos significante
É grande como todas.
Que pode haver de maior ou menor do que um toque?

Sermões e lógicas jamais convencem;
O peso da noite cala bem mais
Fundo em minha alma.

Só o que se prova a qualquer homem ou mulher,
É o que é;

Só o que ninguém pode negar,
É o que é.

Um minuto e uma gota de mim
Tranqüilizam o meu cérebro:

Eu acredito que torrões de barro
Podem vir a ser lâmpadas e amantes;

Que um manual de manuais é a carne
De um homem ou de uma mulher;

E que num ápice ou numa flor
Está o sentimento de um pelo outro,

E hão de ramificar-se ao infinito,
A começar daí­,
Até que essa lição venha a ser de todos,
E um e todos possam nos deleitar

E nós a eles.

Walt Whitman

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Bess.

Com muito pesar ela se levantou. Eram onze horas da noite e ela não passaria outra noite sozinha em casa, ela não. Foi até o telefone e apagou todas as mensagens daquele imbecil, hoje nem mesmo ele iria estragar a sua noite. No rádio Julian Casablancas pedia "Forgive then even if they are not sorry ", Bess apenas acendeu outro cigarro e sorriu irônica.
Todos diziam que Bess era como uma fênix e sempre conseguia renascer das cinzas, ela prometeu a si mesma que hoje renasceria com uma boa aparência. Com uma calça de couro preta, uma blusa branca o suficiente rasgada para que pudessem ver todas as tatuagens que ela possuia, uma jaqueta de couro preta, um salto alto o bastante para que voltasse quebrado, olhos marcados e delineados de preto e um batom vermelho-sangue saiu em busca de aventura na fria Londres.
Assim que chegou no pub foi direto encontrar os seus amigos na mesa atrás do bar. O lugar era quente e escuro, apenas com algumas luzes vermelhas para iluminar. Perfeito para o que os frequentadores estavam acostumados a fazer. Em cima da mesa, haviam várias carreiras de cocaína prontas para serem consumidas, Bess pegou um canudo e puxou quase metade de uma carreira. Em um movimento rápido jogou o cabelo louro-branco (que ela mesma cortara) para trás, com outro movimento tirou a franja torta de seus olhos. A adrenalina e a euforia começavam a correr por suas veias. Mas ela queria mais, ela precisava de um efeito imediato. Com o dedo pegou o resto do pó e passou em sua gengiva.
E então ela olhou a sua volta e viu...
Há três anos ela frequentava esse lugar e era sempre a mesma coisa, o clichê de "sex, drugs and rock and roll" e seria assim até quando? Aos vinte e sete anos ela já não era mais nenhuma criança, não poderia continuar vivendo assim. Brincando de viver assim. Aos vinte e sete anos ela daria uma de Kurt Cobain e se mataria? Morreria com o tamanho do seu ego misturado com a sua dor? Mas ela não era Kurt Cobain, nem tinha o seu talento. Ela era apenas a Bess, a fênix Bess, a metamorfótica Bess.
O dia estava quase amanhecendo quando Bess saiu do pub, trôpega e ainda sobre o efeito da droga, ela olhava para o céu através de seus óculos escuros.
A fênix iria renascer mais uma vez.
Para uma vida diferente agora. Uma vida que mereça ser vivida.

Adam.

A primeira vez que eu o vi, tinha apenas cinco anos. Como em praticamente toda a minha infância, eu estava doente, então ele chegou de fininho e não disse nada, só segurou a minha mão. E nunca mais largou.
Se não fosse a mão dele segurando a minha, eu nunca teria enfrentado o primeiro dia do jardim de infância ou teria dito para o garoto melequento que implicava comigo o quanto eu o odiava. Se não fosse a mão dele segurando a minha, eu não aguentaria comer todas as verduras que me obrigavam ou aguentado a separação dos meus pais.
Adam foi o meu melhor amigo na infância (e depois, é claro, em toda a minha vida), me contava histórias sobre Napoleão, Henrique VIII e Colombo, me ensinou toda a história do mundo. Brincávamos de dar formas às nuvens. Ele via dragões, rostos, árvores... por causa dele eu só via corações.
Adam foi o meu maior segredo, nunca contei sobre ele para ninguém. Só de imaginar outra pessoa sentada ao seu lado, sentindo a força do seu olhar, me fazia sentir calafrios. Costumavam dizer que eu deveria ter algum problema mental por andar sempre sozinha, ninguém entendia. Adam entendia. Desde aquele dia, quando ele pegou pela primeira vez em minha mão, eu soube que ele seria o único a me entender.
Ele foi meu único amor.
Mesmo que nunca tenha realmente existido.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Sexta de Música #14

Old habits die hard
When you got
When you got
A sentimental heart


Quinta de Poesia #14

O amor depois do amor

Há de chegar a hora
em que, com alegria,
você vai se cumprimentar ao chegar
à porta de casa, em seu próprio espelho,
e cada um sorrirá diante da acolhida do outro,

e dirá, sente-se aqui. Coma.
Você amará de novo o estranho que era si mesmo.
Dê vinho. Dê pão. Devolva seu coração
a ele mesmo, ao estranho que amou você

desde que você nasceu, que você ignorou
por outro, que o conhece de cor.
Tire as cartas de amor da estante,

as fotografias, os bilhetes desesperados,
tire sua própria imagem do espelho.
Sente-se. Celebre sua vida.

Derek Walcott