sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Sexta de Música #35

"(...) Nego sinta-se feliz
porque no mundo tem alguém que diz:
que muito te ama que tanto te ama
que muito muito te ama que tanto te ama."

Quinta de Poesia #35



As Coisas

A bengala, as moedas, o chaveiro,

A dócil fechadura, as tardias
Notas que não lerão os poucos dias
Que me restam, os naipes e o tabuleiro,
Um livro e em suas páginas a desvanecida
Violeta, monumento de uma tarde
Sem dúvida inesquecível e já esquecida,
O rubro espelho ocidental em que arde
Uma ilusória aurora. Quantas coisas,
Limas, umbrais, atlas, taças, cravos,
Servem-nos, como tácitos escravos,
Cegas e estranhamente sigilosas!
Durarão para além de nosso esquecimento;
Nunca saberão que partimos em um momento.
Jorge Luis Borges

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Agosto.


Acordei cedo. Acordei cansada, com vontade de desistir, querendo sucrilhos com leite e voltar a ser criança. Acordei com vontade do colo da vovó. Acordei.
Quando dormi de novo ainda era agosto...
Acordei tarde. Acordei com sede de conhaque e vontade de assistir qualquer coisa de Truffaut. Acordei querendo ser grande, ser adulta e de preferência outra pessoa que não fosse eu. Acordei querendo ser Melanie Laurent ou Audrey Tautou. Acordei.
Dormi.
Acordei pensando em você, te querendo por perto, precisando de ti. Acordei com saudade. Acordei com borboletas no estômago, achando que elas me levariam até você. Acordei.
E ainda é agosto...
Acordei cheia de energia, com vontade de aventura. Acordei pensando em escalar uma montanha, saltar de paraquedas ou pular de bungee jump. Acordei.
Dormi.
Acordei querendo te esquecer, querendo me doar para outros, conhecer novas pessoas. Acordei querendo dançar. Acordei querendo ver meus amigos. Acordei sociável. Acordei.
E agosto não termina...
Acordei querendo dormir, terminar o livro que está na cabeceira e não ver ninguém. Acordei minha. Acordei "para dentro". Mas acordei.
Dormi.
Mas agosto não termina.
Agosto dura uma eternidade.
E amanhã ainda será agosto...

domingo, 12 de agosto de 2012

Enterro.

Por quê? Digo, por que desse jeito?
Por que com você e comigo?
Por que você disse sim? Acredite, o não sempre foi uma opção.
Eu nunca exigi nada de você, nunca mendiguei carinho ou cobrei atenção. Achei que você sabia dos seus deveres. Então por que aceitou se nunca me deu tudo o que eu precisava?
Eu me cansei de me culpar, de demonstrar como sou frágil com você por perto, de não conseguir ser eu mesma com você. Por que eu?
Seria mais fácil se você dissesse de uma vez o quanto me quer longe, não precisaria insistir, eu entenderia. Poderia desabafar, dizer que me odeia, que deveria ter dito "não" enquanto pôde. Por que nunca me falou?
Agora já está tarde demais para esquecer ou tentar voltar o tempo. Por que você quis que fosse assim?
Muitas vezes desejei a morte à você, até anos depois perceber que, na verdade, você sempre esteve morto para mim. E junto com você se foram todas as respostas.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Mãe,

as coisas por aqui não estão fáceis. É como se tudo estivesse ao contrário e já não sei mais o que é dentro e fora, dia e noite, norte e sul.
Estou perdida.
O mundo anda me forçando a ser forte e a mudar conforme as mudanças dele. Não sou mais a mesma e sinto saudades de mim.
Derramei tantas lágrimas que me sinto vazia.
Choro vazio.
Dividir minha dor se tornou desnecessário, ninguém entende por mais que eu explique e eu fui obrigada a me  isolar e me calar. Assim fui me perdendo mais e sentindo cada vez mais uma falta maior de mim, da verdadeira "eu", aquela que não é moldada, que é frágil e chora lágrimas de verdade.
Eu preciso voltar para casa, mãe. Me aceite de volta e na condição de mulher e mãe, acolha-me no peito teu. Me deixe chorar, seque minhas lágrimas de vazio na barra do teu vestido e me dê paz em troca de tanto desabafo.