domingo, 24 de junho de 2012

Disparate.

Despiu-se e atirou-se na cama.
Os lençóis grudavam em sua pele.
Maldito calor.
Maldito Rio de Janeiro.
Então riu de si mesma.
Olha ela, sendo um clichê. Odiando a cidade que ama, odiando o tempo que ama.
Mentira.
Esse calor ninguém ama.
Pensou em ligar o ar condicionado, mas lembrou que não pagou a conta de luz esse mês.
Culpa dele.
Mentira, a culpa era dela.
Se naquela noite quente não tivesse sentado ao lado dele e ele não tivesse reclamado do mesmo calor, do mesmo Rio de Janeiro...
Se ele não tivesse oferecido um drink, algo com álcool e bastante gelo, se ela não tivesse caído na lábia ou pelo menos pensasse e não se entregasse de primeira...
Se ela não se derretesse toda vez que ele pedia para ela ficar um pouco, para não sair da cama, para não vestir a roupa, para não pagar as contas...
Se... Se... Se...
Se nunca tivesse feito aquele calor infernal e ela nunca tivesse precisado sair de casa para espairecer, as coisas teriam sido muito diferentes.
E agora, ela não estaria blasfemando sobre o calor com mais raiva do que nunca, muito menos pensando em se mudar da cidade que tanto ama.
Maldito calor.
Maldito Rio de Janeiro.
Maldito.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Lara.

Eu conheci Lara no último ano do colegial. Ela era a garota que mais chamava atenção na sala, não por ser popular, mas pela pele extremamente branca em contraste com as roupas sempre pretas para disfarçar seu manequim plus size. 
Lara quase nunca falava, mas aposto que se falasse tocaria todos com suas palavras. Carregava um sorriso vago no rosto, como se não encontrasse motivos para sorrir de verdade e no geral, parece que não tinha mesmo. Nunca a vi com um grupo certo de amigos, nada além de seus livros, seus pais sempre que apareciam no colégio estavam gritando com ela, enquanto nervosa, ela arranhava as próprias mãos. Eu sentia pena dela, mas não sabia ao certo o que fazer.
Até que Lara não suportou mais, as pessoas caçoando dela, os pais, o colégio... Num dia ensolarado, na naquela pequena cidade italiana, ela abriu os portões e saiu.
Quando eu olhei para trás lá estava ela correndo sem direção.
"Corra, menina, corra. vá de encontro ao seu destino, abra os braços e deixe o vento te levar, apenas respire e não pare de correr jamais."
E naquele momento eu só conseguia pensar que talvez o mundo fosse pouco para ela por não saber ver a beleza por trás daqueles olhos claros, da pele branca, da bochecha vermelha e da única mão que amacia um aperto.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

06.06.12

Seis de junho de dois mil e doze.

Venho, por meio desta, confessar-lhe o que há muito já sabe.
Eu te traí.
E foi de caso pensado.
Não tiro minha parcela de culpa, mas entenda que suas atitudes foram fundamentais para que eu tomasse essa decisão.
Todos fomos culpados nessa história, então não julgue apenas à mim. E se demorei para confessar, entenda que apesar de tudo, senti vergonha do meu ato e de ti.
No começo, eu era fogo e você gelo, tentava te derreter e... nada. No final, eu é quem esfriei. Foi preciso encontrar outra pessoa para voltar a ser fogo.
Você me transformou. Me fez retroceder às origens de meu nome. O homem que eu era antes de você endureceu e virou pedra. Agora penso que talvez não serei mais capaz de amar outra mulher como um dia te amei, mas que fique de lição também para você.
Derreta esse coração, não seja apenas gelo.

Para sempre teu,
Pedro, a pedra.