quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

29.02.2012.

Vinte e nove de fevereiro de dois mil e doze.
Carta é uma coisa tão antiga, querida, mas eu queria que você pudesse tocar em minhas palavras sempre que quisesse e guardá-las mesmo quando longe de ti, eu estiver.
Você está deslumbrante hoje. Gosto de te ver assim com os cabelos soltos ao vento, sua gargalhada dando eco, os olhos brilhando. Só não me agrada essa sua proximidade do abismo, o perigo se mistura com o brilho dos seus olhos, uma mistura perigosa.
Mas isso te inspira, você balança seus pés no nada, enquanto discursa sobre a fragilidade da vida. Por que você faz isso comigo, meu amor? Não vê que estou querendo lhe dizer tudo o que sinto? Não vê que quero tirar-lhe desse abismo, abraçar-lhe e te fazer minha até provar que meu amor é tudo o que você precisa? Eu não quero saber da fragilidade da vida, porque ela não é frágil quando estou com você.
Você sempre se mostrou tão forte para mim, ficando ao meu lado, me dando apoio e aonde está essa pessoa forte agora? Por que há lágrimas nos seus olhos? Por que você fala em sumir? Por que você pensa em se jogar? Por quê?
Pequena, não há motivo para isso. Senta aqui. Eu te cuido. Eu te embalo. Senta. Não. Não chega perto daí, não se afasta de mim. Querida, por favor, eu te imploro.
Não. Faça. Isso.

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Se eu acordar, posso te tocar, logo ao meu lado, você descansa tranquila, talvez sonhando com pique-niques e dias felizes. Mas o sonho é tão real, pequena. Você se afasta lentamente de mim e eu sinto meu coração se afastando junto.
Apenas prometa, querida, que após ler essa carta correrá ao meu encontro e me prometerá viver para sempre ao seu lado. Assim como você prometeu naquele dia em que você estava deslumbrante, em que havia uma mistura perigosa em seus olhos, em que você discursava sobre a fragilidade da vida. Naquele dia em que você aceitou se casar comigo. A partir daquele dia, eu soube o que é ser feliz.
Agora pára de ser preguiçosa, levanta dessa cama e vem me dar um beijo, talvez fazer nosso café da manhã. Estarei te esperando na mesa de jantar, lendo um jornal, como em todas as manhãs.

Para sempre teu,
Johnathan.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Série: Para sempre teu.

A nova série do blog se chama "para sempre teu", inspirada no livro "Para sempre teu, Caio F.".
A série vem com uma história diferente a cada post, mas todas falando do mesmo assunto: o amor. Retratado através de cartas dos eternos apaixonados para suas amadas.
A série começa amanhã e eu espero que gostem. Espero também, que me desculpem pela ausência de posts.
Atenciosamente,
a autora.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Sexta de Música #28

Ele era um aspirante a poeta
Ela era a inspiração
E pra ele qualquer coisa nela despertava uma canção



Quinta de Poesia #28

A dor é uma coisa estranha.
Um gato que mata um pássaro,
um acidente de automóvel,
um incêndio...

A dor chega,
BANG,
e eis que ela te atinge.

É real.

E aos olhos de qualquer pessoa pareces um estúpido.
Como se te tornasses, de repente, num idiota.

E não há cura para isso,
a menos que encontres alguém
que compreenda realmente o que sentes
e te saiba ajudar...
Charles Bukowski

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Sobre a própria.

Eu não fui uma "menininha" na infância. Nunca sonhei em fazer balé, meu quarto nunca foi rosa e nunca achei que os contos de fada eram as histórias mais lindas do mundo. Meu livro favorito era um drama, um conto infantil sobre uma tartaruga solitária, era meu favorito porque eu me via nele.
Mas também não fui nenhum moleque. Preferia Cavaleiros do Zodíaco ao invés de Branca de Neve, mas sobrevivi à infância intacta e sem ter nunca empinado uma pipa. Eu fui criança de apartamento e fui criada com vó, mas mimada não é um adjetivo usado para me definir. Sei meus limites e desde cedo aprendi que "a minha liberdade termina onde começa a sua".
Eu não gosto de mudanças e nem de surpresas, elas me tiram a reação e tudo o que eu  não sou é uma pessoa impulsiva. Ou eu penso antes de fazer alguma coisa ou não faço. Não dou um passo sem saber o que pode me fazer recuar mais para frente. Não faço uma coisa sem saber das consequências que poderão aparecer. Eu sou uma pessoa que procura ter total controle de si mesma.
Eu gosto do escuro, mas funciono melhor de manhã. Eu gosto do silêncio, mas não vivo sem música. Eu sei sambar, mas meu pé esquerdo não. Eu sei segurar o choro, mas meus olhos não. Eu sei ser feliz, mas meu coração não. Eu sou toda errada.
Eu tenho uma lista de palavras preferidas e a maioria delas começa com "e". Eu vejo coisas que ninguém vê em quadros abstracionistas e em nuvens também. E normalmente quando eu cito as coisas, eu cito três. Eu sou uma pessoa estranha.
Eu ainda sou aquela tartaruga solitária. Eu ainda sou aquela garotinha tímida que se esconde atrás da mãe. Eu ainda encaro demais o chão. Eu ainda falo muito sobre morte. Eu ainda tenho medo do futuro e das pessoas. "Acho que eu fico mesmo diferente, quando falo tudo o que penso realmente. Mostro a todo mundo que eu não sei quem sou e uso as palavras de um perdedor."


Nota da autora: Para a Bambuxa, que reclamou que eu não falava de mim nos meus próprios textos. Mas pelo o contrário, estou em todos os deles, direta ou indiretamente.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Igor.

Eu queria ter o poder de livrá-lo dessas pessoas, queria que ele fosse um homem como qualquer outro. Quando ele nasceu, achei que tinha conseguido o filho perfeito. Um par de olhos, de braços, de pernas. Uma boa audição, um coração que batia forte em seu peito, tudo parecia perfeito. E por alguns anos, eu achei  que isso era tudo. Sua infância fora tão normal e tão feliz que os primeiros sintomas da doença eu entendia como "coisa de adolescente".
Dos quatorze aos dezesseis nos falávamos raramente, ele ia mal na escola e chegou a repetir de ano, não tinha amigos, vivia trancado em casa e seu comportamento era volúvel e estranho. Eu culpava minha esposa e ela me culpava. Só quando Igor completou dezessete anos, descobrimos que a culpa não era nem nossa, nem dele.
Igor foi diagnosticado com esquizofrenia indiferenciada. Meu filho perfeito era esquizofrênico. Um par de olhos, de braços, de pernas. Uma boa audição, um coração que batia fortemente em seu peito, mas com um cérebro ruim, que o fazia ter alucinações e delírios.
Eu pensei que isso fosse matar o meu filho. Aos poucos eu via o Igor a quem dei comida na boca, troquei as fraldas, ensinei a andar de bicicleta, desaparecer. A perfeição que eu achava que ele tinha atingido, se distanciava do meu filho e da nossa família.
Foi preciso muito tempo depois do diagnostico para que eu percebesse que sim, eu tenho um filho perfeito. Ele tem sofre de alucinações e delírios, tem esquizofrenia, mas ainda assim ele é perfeito. Perfeito para mim e para minha esposa. O filho que sempre sonhamos em ter.



segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Meu Querido.

(ou o outro lado da história de Minha Menina.)

Eu costumava ter um amor, o meu querido. E eu o amava de um jeito único, como deve ser. Mas eu tinha medo, medo de não ser suficiente para ele, medo de que tudo o que me fazia amá-lo acabasse nos afastando.
Ninguém nunca me ensinou a amar, na infância as brincadeiras com boneca me ensinaram a ser mãe, esposa, cozinheira, dona de casa, mas não me ensinaram a amar. Mas assim que te conheci, eu tive que aprender na marra.
Por isso eu nunca soube expressar meus sentimentos, mas quando não me declarava, ou não dizia aos quatro cantos que te amava, não significava que não o amava. Até porque, eu te amava no mais calado silêncio.
Seu problema sempre foi rotular, querido. Por que tentar moldar, decifrar, dar nomes para o nosso amor? Deixasse ele crescer e se firmar do jeito mais natural possível. Aliás, era só isso que eu queria também. Crescer.
Mas eu aprendi com você, querido. Mais do que com qualquer outra pessoa. Com você, eu enxerguei mais. Vi beleza no mundo, vi cores, vi amor. Mas o problema é que vi demais.
A gente se excedeu demais, amor. Foi amor demais, carinho demais, paixão demais, felicidade demais. Felicidade não dá uma boa narrativa, querido. E eu ainda queria poder contar a nossa história.
Não me entenda mal, querido. Eu ainda o amo, mas preciso me afastar de você. Seu amor me roubava a luz, me deixava cega e eu preciso recuperar tudo isso. Recuperar a clareza do mundo.
Não entenda isso como um ponto final em nossa história, são apenas reticências. E nessa distancia ingrata, serei mais eu e você será mais você, para só quando o destino decidir, sermos mais nós, juntos.
Mas eu costumava ter esse amor. E eu o amava (e continuo amando) de um jeito único, como deve ser.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Sexta de Música #27

Eu quis te conhecer mas tenho que aceitar
(I can forget about myself
Trying to be everybody else)
Caberá ao nosso amor o eterno ou o não dá
(I feel all right that we can go away)
Pode ser a eternidade má
(And please my day)
Eu ando sempre pra sentir vontade.
(I'll let you stay with me if you surrender)


quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Quinta de Poesia #27

O poeta é um fingidor. 
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor 
A dor que deveras sente. 

E os que lêem o que escreve, 
Na dor lida sentem bem, 
Não as duas que ele teve, 
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda 
Gira, a entreter a razão, 
Esse comboio de corda 
Que se chama coração.



Fernando Pessoa