segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Sobre a própria.

Eu não fui uma "menininha" na infância. Nunca sonhei em fazer balé, meu quarto nunca foi rosa e nunca achei que os contos de fada eram as histórias mais lindas do mundo. Meu livro favorito era um drama, um conto infantil sobre uma tartaruga solitária, era meu favorito porque eu me via nele.
Mas também não fui nenhum moleque. Preferia Cavaleiros do Zodíaco ao invés de Branca de Neve, mas sobrevivi à infância intacta e sem ter nunca empinado uma pipa. Eu fui criança de apartamento e fui criada com vó, mas mimada não é um adjetivo usado para me definir. Sei meus limites e desde cedo aprendi que "a minha liberdade termina onde começa a sua".
Eu não gosto de mudanças e nem de surpresas, elas me tiram a reação e tudo o que eu  não sou é uma pessoa impulsiva. Ou eu penso antes de fazer alguma coisa ou não faço. Não dou um passo sem saber o que pode me fazer recuar mais para frente. Não faço uma coisa sem saber das consequências que poderão aparecer. Eu sou uma pessoa que procura ter total controle de si mesma.
Eu gosto do escuro, mas funciono melhor de manhã. Eu gosto do silêncio, mas não vivo sem música. Eu sei sambar, mas meu pé esquerdo não. Eu sei segurar o choro, mas meus olhos não. Eu sei ser feliz, mas meu coração não. Eu sou toda errada.
Eu tenho uma lista de palavras preferidas e a maioria delas começa com "e". Eu vejo coisas que ninguém vê em quadros abstracionistas e em nuvens também. E normalmente quando eu cito as coisas, eu cito três. Eu sou uma pessoa estranha.
Eu ainda sou aquela tartaruga solitária. Eu ainda sou aquela garotinha tímida que se esconde atrás da mãe. Eu ainda encaro demais o chão. Eu ainda falo muito sobre morte. Eu ainda tenho medo do futuro e das pessoas. "Acho que eu fico mesmo diferente, quando falo tudo o que penso realmente. Mostro a todo mundo que eu não sei quem sou e uso as palavras de um perdedor."


Nota da autora: Para a Bambuxa, que reclamou que eu não falava de mim nos meus próprios textos. Mas pelo o contrário, estou em todos os deles, direta ou indiretamente.