quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Igor.

Eu queria ter o poder de livrá-lo dessas pessoas, queria que ele fosse um homem como qualquer outro. Quando ele nasceu, achei que tinha conseguido o filho perfeito. Um par de olhos, de braços, de pernas. Uma boa audição, um coração que batia forte em seu peito, tudo parecia perfeito. E por alguns anos, eu achei  que isso era tudo. Sua infância fora tão normal e tão feliz que os primeiros sintomas da doença eu entendia como "coisa de adolescente".
Dos quatorze aos dezesseis nos falávamos raramente, ele ia mal na escola e chegou a repetir de ano, não tinha amigos, vivia trancado em casa e seu comportamento era volúvel e estranho. Eu culpava minha esposa e ela me culpava. Só quando Igor completou dezessete anos, descobrimos que a culpa não era nem nossa, nem dele.
Igor foi diagnosticado com esquizofrenia indiferenciada. Meu filho perfeito era esquizofrênico. Um par de olhos, de braços, de pernas. Uma boa audição, um coração que batia fortemente em seu peito, mas com um cérebro ruim, que o fazia ter alucinações e delírios.
Eu pensei que isso fosse matar o meu filho. Aos poucos eu via o Igor a quem dei comida na boca, troquei as fraldas, ensinei a andar de bicicleta, desaparecer. A perfeição que eu achava que ele tinha atingido, se distanciava do meu filho e da nossa família.
Foi preciso muito tempo depois do diagnostico para que eu percebesse que sim, eu tenho um filho perfeito. Ele tem sofre de alucinações e delírios, tem esquizofrenia, mas ainda assim ele é perfeito. Perfeito para mim e para minha esposa. O filho que sempre sonhamos em ter.