domingo, 29 de maio de 2011

Memórias de penteadeira.

Hoje eu senti seu cheiro. Estava andando na rua e uma brisa me trouxe você. Me perguntei se foi a mesma que o trouxe há alguns anos e lhe tirou logo depois. Mais tarde pensei ter visto o seu rosto, mas era apenas a saudade me fazendo vê-lo em qualquer lugar. Cansada da rua e de te procurar em todos que passavam por mim, retornei para casa. Mas você está aqui.
No rádio é a canção que você dedicava a mim que toca, na secretária eletrônica é a sua voz que avisa que estamos ocupados. Mas não estamos mais ocupados e a música agora me soa triste. Se fecho os olhos durante o banho ao invés da água, sinto seus dedos massageando minhas costas e seu hálito quente no meu pescoço. No espelho, às vezes é o seu reflexo que vejo. Eu me tornei você. E agora odeio ser somente eu.
Você está nas paredes, no teto, em todos os porta-retratos, na cama, no sofá, na tv. Sinto vontade de me mudar para tentar te esquecer, mas eu sei que isso não adiantará. Porque não é só nas coisas materiais que você está, é em meu coração.
E se eu me mudar e você resolver voltar? Não me encontrará. Então não sairei do lugar até que você venha me buscar e me levar para onde for. Me leva amor, para qualquer lugar do mundo, mas me leva com você. Me bota na mala, me leva aonde for. Eu quero estar com você, eu quero ser você novamente. Por favor.
Volta amor. Volta. Estou cansada de ver o mundo em preto-e-branco, preciso que você venha colorir ele para mim.
Brisa traga o meu amor de volta, eu preciso dele.

Você.

Eu queria ter certeza da cor deles. Mas afinal são verdes ou azuis? Às vezes me parecem cinzas. Quando está com raiva ou ciúmes, eles escurecem e clareiam sempre que você sorri, aliás, você sabe sorri usando-os com perfeição.
E o que em ti não é perfeito?
Seu nariz é perfeito. É grande de uma forma que parece denotar masculinidade, eu adoro ele. Gosto de percorrer sua extremidade com a ponta do dedo e vê-lo sorrir quando o faço.
Sua boca é perfeita. Eu poderia passar a eternidade beijando-a.
Seu queixo é perfeito. Essa covinha que ele tem o deixa tão sexy. Eu quero mordê-lo, quero agora. Mas isso poderia acordá-lo e ainda tenho muita coisa para ver.
Ultimamente ando me forçando a passar as noites em claro, só para poder te admirar. Cada pedacinho perfeito do seu corpo, até mesmo a perfeição com que você inspira e expira, é nas madrugadas que percebo isso com clareza.
E por um momento eu sinto que pertencemos mesmo um ao outro e que esse instante durará para sempre.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Sexta de música #13

When the evening shadows
And the stars appearAnd there is no one there
To dry your tearsI could hold youFor a million years
To make you feel my love


Quinta de Poesia #13

Reflexo

As coisas acontecem assim em minha vida: vêm de um algum lugar estreito e chuvoso, a cavalo, a galope, entram em mim, não sei como, e se espalham, se derretem, se fundem, se magmam. Amanhecem, ensolaram. Depois me habitam, não estando, mas sendo. As coisas dentro de mim não são mais coisas, apenas são. E ficam. E ficam.

Ficam escondidas, mas ficam.

Ficam retidas, amalgamadas, empedram, incrustam.

De vez em quando, vê-se um de seus raios em meio a uma minha gargalhada.

Mas é um reflexo, apenas. Um reflexo, como um soluço, como um suspiro.

Como uma gargalhada.

À tarde, elas se vestem em luvas. E às vezes me arranham, e às vezes me afagam.

Não tenho medo, exatamente. Nada é exato dentro de mim.

Dentro de mim, não há ciência, nem soft sciences, nem hard.

Aqui dentro, nada hard, mas tudo arde.

Uma fome tenra, tão tenra que nem existe.

Uma fome talvez transformada em lava.

Um impulso amarrado em rédeas que não levo.

Que amarras? Tudo arde.

Sonhos dilatados em uma réstia de essência

São a extensão do meu céu, e povoam minhas noites

Não recuso paixão, e não recuso permanência.


Alessandra Siedschlag

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Sexta de Música #12

Some people think they're always right
Others are quiet and uptight
Others they seem so very nice nice nice nice (oh-ho)
Inside they might feel sad and wrong (oh no)


quarta-feira, 18 de maio de 2011

Alice e Pedro.

Era um sábado, mas não era um sábado qualquer, era carnaval. O relógio despertou e lentamente Alice se levantava, seria um longo dia, mas se previamente ela já imaginasse o que iria acontecer talvez se levantasse mais disposta. Se vestiu da maneira que havia combinado com as amigas e foi aproveitar o que o Rio de Janeiro tem de melhor para oferecer.
Duas horas depois, quatro homens que nada são além de quatro números para se somar na lista e o carnaval mostrava porque era a época mais esperada do ano. Ao caminhar pela multidão, entre milhares de rostos um se destacou. O desejo e reconhecimento mesclavam-se nos olhos de Alice e sua boca mal podia controlar o sorriso que se formava. Alice se aproximou devagar, (não pela dramatização da coisa, e sim, por estar andando contra a multidão) Pedro a reconheceu. Levados pela música, dançaram, separados e depois juntos. E então o mundo desapareceu. A música que dançavam já não era mais a mesma que estava tocando, era um ritmo que só eles conheciam e embalados por esse ritmo único, se beijaram.
Então eles cometeram um erro grave. Fizeram promessas e todos sabem que promessas foram feitas para serem quebradas. Mas não importava, eles só queriam se entregar àquele momento. Mas era tarde demais. Talvez nunca tenha sido o tempo certo ou até mesmo o lugar certo. A música que só eles ouviam aos poucos cessava, o mundo ao redor deles aos poucos voltava e eles sabiam que chegava a hora de se separarem.
Foram só alguns minutos, talvez somados não formem uma hora inteira, mas valeu a pena. E Alice não se esqueceu disso, Pedro talvez ainda se recorde. E o futuro ainda está acontecendo, pode ser que em alguns dias eles se reencontrem e ambos estejam preparados para o que está por vir.

sábado, 14 de maio de 2011

Quinta de Poesia #12

Amo-te por sobrancelhas

Amo-te por sobrancelhas, por cabelo, debato-te em corredores
branquísimos onde se jogam as fontes da luz,
Discuto-te a cada nome, arranco-te com delicadeza de cicatriz,
vou pondo no teu cabelo cinzas de relâmpago
e fitas que dormiam na chuva.

Não quero que tenhas uma forma, que sejas
precisamente o que vem por trás de tua mão,
porque a água, considera a água, e os leões
quando se dissolvem no açúcar da fábula,
e os gestos, essa arquitectura do nada,
acendendo as lâmpadas a meio do encontro.

Tudo amanhã é a ardósia onde te invento e desenho.
pronto a apagar-te, assim não és, nem tampouco
com esse cabelo liso, esse sorriso.

Procuro a tua súmula, o bordo da taça onde o vinho
é também a lua e o espelho,
procuro essa linha que faz tremer um homem
numa galería de museu.

Além disso quero-te, e faz tempo e frio.


Julio Cortázar

Fugacidade.

(ou o que se perde enquanto os olhos piscam.)

Abre os olhos. Primeiro choro, primeiro colo, primeira coisa a comer, primeiro cochilo, primeiro banho, primeiros passos, primeiras palavras, primeiros amigos, primeira viagem, primeira vez a ver o mar. Pisca. Maternal, novos amigos, corte e colagem, sorvete, pique-pega, policia e ladrão, elefantinho colorido. Pisca. Jardim de infância, ler as primeiras palavras e também escrevê-las, natação, mais sorvete, mais pique-pega, mais todas as brincadeiras. Pisca. Escola novo, amigos novos, primeiro sutiã, ensino fundamental, primeiro beijo, primeira paixão. Pisca. Primeira briga com a melhor amiga, primeiro namorado, festa de quinze anos, ensino médio, formatura. Pisca. Primavera, verão, outono, inverno. Pisca. Faculdade, vodka, cerveja, tequila, sexo. Pisca. Conhecer o amor da sua vida, olhá-lo nos olhos pela primeira vez, beijá-lo pela primeira vez e casar com ele. Pisca. Filhos, netos e bisnetos. Pisca. Abre os olhos. Pisca. Tenta abrir. Pisca. Fecha os olhos. Para sempre.

O tempo é tão fugaz que quando você finalmente percebe, grande parte da sua vida já passou diante dos seus olhos e você não aproveitou.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Sexta de Música #11


Eu pensei que quando eu morrer
Vou acordar para o tempo
E para o tempo parar



quinta-feira, 5 de maio de 2011

Quinta da Poesia #11

A coisa mais injusta sobre a vida é a maneira como ela termina. Eu acho que o verdadeiro ciclo da vida está todo de trás pra frente. Nós deveríamos morrer primeiro, nos livrar logo disso.

Daí viver num asilo, até ser chutado pra fora de lá por estar muito novo. Ganhar um relógio de ouro e ir trabalhar. Então você trabalha 40 anos até ficar novo o bastante pra poder aproveitar sua aposentadoria. Aí você curte tudo, bebe bastante álcool, faz festas e se prepara para a faculdade.

Você vai para colégio, tem várias namoradas, vira criança, não tem nenhuma responsabilidade, se torna um bebezinho de colo, volta pro útero da mãe, passa seus últimos nove meses de vida flutuando. E termina tudo com um ótimo orgasmo! Não seria perfeito?


Charles Chaplin