quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Esse mês.

Novembro chuvoso.
Novembro choroso.
Novembro penoso.
Novembro sofrido.
Novembro solitário.
Novembro doloroso.
Novembro cinzento.
Novembro nublado.
Novembro calado.
Novembro fechado.
Novembro "pra dentro".
Por que novembro? Por que tão cruel comigo?
Mas não te preocupa, que amanhã o dia amanhece outro.
Mas não te preocupa, que amanhã o dia amanhece dezembro.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Nuvem.

A última coisa em que eu pensei foi na primeira vez que eu comi algodão doce.
Era um dia de sol e foi a minha primeira vez em um parque de diversões. Por sorte eu era baixa o demais para não ir nos brinquedos mais assustadores, então poderia aproveitar o que normalmente as outras pessoas não aproveitavam, como carrinhos que batiam, rodas gigantes que giravam e elefantes que voavam.
E algodão doce, é claro.
Lembrava uma nuvem, uma nuvem rosa da cor do meu vestido. E eu demorei horas para comer aquele único algodão doce, quase uma eternidade, porque eu não queria que o gosto saísse da minha boca nunca.
E de fato, depois daquele dia existiram muitos algodões-doces em minha vida, mas nenhum foi como aquele. Nenhum foi tão doce ou tão rosa ou parecia tanto com uma nuvem. E eu procurei. Mas quanto mais procurava, mais me decepcionava, por não achar um que se quer fosse parecido.
A última coisa em que eu pensei foi algodão doce. E em nuvens cor de rosa.
Depois, eu morri.

domingo, 20 de novembro de 2011

Sexta de Música #22

Onde já se viu o mar apaixonado por uma menina?
Quem já conseguiu dominar o amor?



Quinta de Poesia #22

Amanhecer

Levanta a cortina dos teus olhos
Contempla a maravilha do amanhecer
A vida é uma criança,
esperta, bonita, inteligente
Passa correndo, é preciso ver
Acredita, enquanto há tempo:
não existe dor sem alento
nem tristeza tão longe da alegria
quando a luz de cada dia,
acende a vida,
iluminando o amanhecer
Não vacila, toma posse
da imensa alegria de viver.



Ivone Boechat

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Memórias de Penteadeira III.

Lembra de quando você recebia telefonemas às 3 horas da manhã e atendia com a voz rouca de sono? Esses telefonemas eram meus.
Eu sabia que assim que acordasse, você viria até aqui com a mais recente edição daquele jornal inglês e me contaria dos telefonemas estranhos que ocorriam de madrugada, que nada diziam e logo desligavam.
Sabe... é que muitas noites eu sentia sua falta quando não estava aqui e precisava te ligar só para saber se era mesmo verdade que você existia. Era pelo mesmo motivo que eu encostava a cabeça no seu peito antes de adormecer, só para sentir sua respiração irregular e seus batimentos cardíacos.
Eu precisava saber se era real.
Não me culpe, eu simplesmente não soube reconhecer a felicidade quando a encontrei. Eu só soube te necessitar.
E necessito.
Ainda necessito.
E aonde está você agora?
Lembra de quando você recebia telefonemas às 3 horas da manhã?
Até que em uma madrugada você não atendeu.
E no dia seguinte eu não li a edição mais recente daquele jornal inglês.

Herói.

Quando vai entender que preciso ser salva? Preciso que levante correndo da cama de madrugada, vista sua capa e venha voando me ver.
Olha no seu cinto de utilidades, vê se não encontra algo que talvez me pertença, provavelmente meu coração, e traz ele para mim.
Me salva, me tira dessa solidão.
Te juro que nem precisa ficar de ponta cabeça, pendurado em uma teia,  para eu te beijar. Te juro que não conto sua identidade para ninguém, mas tem que me prometer exclusividade.
Você me salva e eu te salvo, combinado?
Agora me tira dessa solidão que eu tiro essa kriptonita de perto de você.
Só levanta da cama, veste essa capa e vem. Mas vem rápido, vem voando.

domingo, 13 de novembro de 2011

Ana e o Mar.

A primeira vez que Ana conheceu o mar, conheceu também o amor.
Assim que Ana chegou perto, o mar se agitou. Afinal, o amor era algo novo para ele também.
O mar beijava os pés de Ana declarando sua paixão e Ana sorria admirada pelo seu amado.
Eles se pertenciam. Mas não deveriam se pertencer.
Onde já se viu o mar apaixonado por uma menina?
O amor prega peças, não se pode controlá-lo. Ana se apaixonou pelo mar e ele por ela. O mar pertencia à Ana e Ana queria pertencer ao mar.
A primeira vez que Ana conheceu o mar, conheceu também o amor.
Mas no mesmo dia, conheceu a ilusão.
O mar ainda era de todos, não pertencia só à Ana.