quinta-feira, 26 de abril de 2012

Untlited II.

(...)
"Tira esse véu do seu rosto."
"Não quero que minha imagem afete você."
"Você me afeta em qualquer forma e de todas as maneiras. Não me importo com a sua imagem."
"Então por que insiste em que eu tire o véu?"
"Quero saber do que tem medo, o que me escondes..."
"..."
"E então?"
"Só não quero que meu rosto ofusque minha personalidade."
"Então és bela?"
"Só a beleza é capaz de ofuscar algo?"
"Não..."
"É tudo uma questão de distração. Não quero lhe tirar a atenção, certo? É só isso."

Ela já estava cansada de tanta insistência e ele de tanta ladainha.
Se calaram.
Depois se olharam.
Então ele deu um passo e a pegou em seus braços, forçando-a a abraçá-lo.

"Não vamos discutir."
"Eu, certamente, não irei."
"Por que é tão cabeça dura?"
"..."

Se apertaram mais.
Ela sabia que aquela seria a última vez, então resolveu aproveitá-la um pouco mais.
Se ele não conseguia aceitar a vontade dela de não mostrar o rosto, não aceitava ela.
Não havia motivos para continuar dessa maneira. Então abraçaria aquele homem por mais tempo do que normalmente ela se permitiria.

domingo, 22 de abril de 2012

Sozinho, porém sólido.

Sentado na penumbra, encarando o telefone e esperando ele tocar. Poderia ser qualquer pessoa... minha mãe, você, engano, telemarketing, qualquer um. Apenas toque, desgraçado.
Mas ele não irá tocar.
O jantar já foi servido, um belo banquete para um, mesmo a mesa contendo seis lugares.
Ninguém irá chegar.
Eu continuarei sem saber que som a minha campainha faz.
Assim eu sou. Só. Sóu. Acompanhante de mim mesmo.
Talvez agora seja a hora de comprar uma TV ou um rádio, qualquer coisa que emita som, assim poderia ouvir outras vozes além da minha ecoando por toda a parte.
E não há nada para se fazer. Já escrevi todos os contos, já li todos os livros. Já fiz a barba, já cortei o cabelo. Já arrumei a casa, já passei minhas roupas.
Não é fácil ser solitário nesse mundo interligado, mas eu aguento. Não caio na tentação de me jogar por essa janela do oitavo andar ou cortar os pulsos. Faço questão de praticar o auto-controle e não me afogar em mim mesmo. Tenho que me aturar. Tenho que aguentar quem eu sou.
Eu sou sozinho, mas sou forte, sólido e esses são os "só" que me acompanham.
Mas bem que o telefone poderia tocar e alguém na porta bater...

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Quinta de Poesia e Sexta de Música #32


Felicidade?
Disse o mais tolo: "Felicidade não existe."
O intelectual: "Não no sentido lato."
O empresário: "Desde que haja lucro."
O operário: "Sem emprego, nem pensar!"
O cientista: "Ainda será descoberta."
O místico: "Está escrito nas estrelas."
O político: "Poder"
A igreja: "Sem tristeza? Impossível.... (Amém)"
O poeta riu de todos,
E por alguns minutos...
Foi feliz!

sexta-feira, 13 de abril de 2012

13.04.12

Treze de abril de dois mil e doze.
Aqui do aeroporto, esperando anunciarem meu voo, me peguei pensando em você. Assim que eu subir nesse avião, terei uma nova vida, em um novo país onde você não estará, mas ainda restaram algumas coisas que preciso lhe dizer, coisas que pessoalmente nunca tive coragem, nem mesmo na nossa despedida.
Queria estar carregando nessa mala um pedaço teu. Algo com a sua marca e que eu não encontrarei em lugar algum do mundo. Algo como uma parte de seus cabelos que leve aquele cheiro único de jasmim ou uma peça de roupa com o cheiro doce de seu perfume (que nunca soube definir ao certo, acho que já nasceu contigo). Queria estar carregando qualquer coisa que te trouxesse até mim, por uma fração de segundo que seja. Roupas. É só isso que vou encontrar quando chegar ao hotel.
Você já entendeu aonde quero chegar e dever estar tendo uma síncope, mas vai piorar, porque vou parar de enrolar e falar de uma vez com todas as letras: EU AMO VOCÊ. Não notou como sempre te amei? Te idealizava, botava-te em um pedestal, mas porque eu te amava.

(Última chamada para o voo AF0042)


Mas fica tranquila. Guarda teus medos, meu avião já vai partir e eu vou com ele. Levando meu amor e sem cobrar nada de você, porque não é necessário. Vou começar uma vida nova, quem sabe com uma nova mulher.

Mas saiba que serei
Para sempre teu,
Marcelo.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Metrô.

Por que eu simplesmente não consigo desviar os olhos de você ou imaginar os detalhes da sua vida? Você é simplesmente encantador aos olhos.
Você pode ser um psicopata. Não, psicopatas não têm olhos tão gentis quanto os seus. Um encanador talvez? Minha mente não liga muito uma coisa a outra, né?! Te achava um psicopata e agora acho que é encanador.
Os calos nas mãos o delataram, algum tipo de trabalho duro você faz. Encanador? Escultor? Pianista? Ouvi dizer que pianistas têm calos enormes que nunca poderão ser reparados... É. Você aparenta ser um pianista.
Sua vida o preocupa. As rugas em sua testa não são sinais de idade avançada (aliás, duvido que tenha os cinquenta anos que aparenta), mas sinais de preocupação. Só que provavelmente leva tudo isso com bom humor, pois há marcas de expressão ao redor da sua boca.
Essa cicatriz no seu braço seria de quando caiu da árvore? Deve ter subido para pegar uma bola de futebol ou uma pipa, escorregou e caiu, quebrando em uma ou talvez duas partes, estou certa?  Alguns meses de recuperação e uma cicatriz para toda a vida. Pelo visto você gostou de ser criança. E pelo visto você gosta de crianças. Quando o pequeno ao seu lado começou a chorar, você sorriu pacientemente para ele, mas depois seus olhos adquiriram um ar melancólico. Seus filhos já são crescidos? Vai ver nunca chegou a ter filho algum... uma pena, pois tenho certeza de que seriam amados.
Ooh, pianista, não fique assim. Toque uma canção para mim. Qualquer uma, mas que venha do fundo de sua alma e conte todos os seus segredos.
E afinal qual deve ser sua verdadeira vida? Nunca saberei. Chegou a minha estação.