sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Sexta de Música #24

"A very merry christmas
And a happy new year
Let's hope it's a good one
Without any fear"


Quinta de Poesia #24

Enfeite a árvore de sua vida


com guirlandas de gratidão!


Coloque no coração laços de cetim rosa,


amarelo, azul, carmim,


Decore seu olhar com luzes brilhantes


estendendo as cores em seu semblante


Em sua lista de presentes


em cada caixinha embrulhe


um pedacinho de


amor,


carinho,


ternura,


reconciliação,


perdão!


Tem presente de montão no estoque do nosso coração e não custa um tostão!


A hora é agora! Enfeite seu interior! Sejas diferente! Sejas reluzente!




Autor Desconhecido.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Jardim.

(ou onde nosso amor floresceu)


Assim que a primavera dava seus primeiros sinais corríamos para o Jardim. Não era algo que precisava ser combinado, pois o ano todo esperávamos por aquela estação e aqueles dias no Jardim.
Minhas noites durante os outros nove meses do ano se resumiam em lembrar-me dos seus cabelos sendo tocados pelo vento, enquanto você corria em minha direção e sonhar com a estação que estava por vir.
Assim que chegava, a primavera nos presenteava com os dias mais belos.
Rolávamos pela grama e depois exaustos, descansávamos debaixo de uma árvore. Naqueles momentos eu desejava abandonar as aulas de piano e começar as de pintura. Você seria a minha Monalisa, mas estaria deitada e sorrindo, com o sol se pondo atrás, o céu alaranjado e seu rosto na penumbra. Seus olhos seriam tão expressivos quanto os da musa de Da Vinci e transpareceriam um misto de alegria, mistério e melancolia.
Aqueles anos, aquelas (nossas) primaveras, quando as árvores viraram nossas maiores confidentes e o sol parecia se pôr mais tarde só para nos dar tempo, serviram para que eu encontrasse respostas para todas as minhas perguntas, para que eu transformasse minha tortuosa vida em algo simples, apenas em amar você.

domingo, 18 de dezembro de 2011

Giorgia.


A primeira garrafa de champagne já foi aberta e logo os fogos começarão. "Ano novo, vida nova", nada como o último dia do ano para refletir as coisas que não foram feitas.
Esse ano não houveram amores. Assim como prometido na virada do ano, só haveria envolvimento carnal, afinal "amor é atraso de vida", já diria seu avô.
O emprego continua o mesmo, o chefe continua um canalha e as coisas continuam não indo bem com o seu pai.
Mas nesse Reveillón ela já não é a mesma Giorgia do ano passado, a antiga queria liberdade, diversão, queria esquecer. A nova anda pensando em casinha de campo, jardinagem e sumir do mundo.
A antiga queria ser lembrada, a nova anda querendo ser esquecida. A antiga guardava rancor em cada célula do seu corpo, a nova quer pedir perdão.
Giorgia não imaginava que em um ano, em míseros trezentos e sessenta e cinco dias poderia crescer tanto, poderia renascer. Mas isso aconteceu.
E para o ano que virá, ela o vê como um livro em branco. Sua história será contada, em primeira pessoa, em tempo real. E para ela, só resta torcer para que dê tudo certo. Ou pelo menos que dê um bom livro.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Sobre o silêncio que fica.

Um último suspiro, talvez um último sorriso e o silêncio.
É como um hiato, uma grande pausa, que só faz aumentar.
Passam-se choros que de tanta dor são calados. Até a dor, quando é forte, mergulha em silêncio.
Passam-se minutos, pessoas, pêsames, mas o silêncio fica.
Dizem que o que fica é o vazio, mas é não. O vazio é preenchido pelo silêncio.
E o silêncio vai ficar para sempre preenchendo o vazio.
Talvez a escuridão no começo acompanhe o silêncio, mas depois ela vai embora. Com o tempo a cor aparece novamente. Mas não o silêncio, ele não se vai.
E de tudo, só o silêncio fica.

Sexta de Música #23

"I die, you smile, you laugh, I cry
And only, a girl like you could be lonely
And it's a crying shame, if you would think the same"


Quinta de Poesia #23


Days

What are days for?
Days are where we live.   
They come, they wake us   
Time and time over.
They are to be happy in:   
Where can we live but days?

Ah, solving that question
Brings the priest and the doctor   
In their long coats
Running over the fields.

Philip Larkin

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Esse mês.

Novembro chuvoso.
Novembro choroso.
Novembro penoso.
Novembro sofrido.
Novembro solitário.
Novembro doloroso.
Novembro cinzento.
Novembro nublado.
Novembro calado.
Novembro fechado.
Novembro "pra dentro".
Por que novembro? Por que tão cruel comigo?
Mas não te preocupa, que amanhã o dia amanhece outro.
Mas não te preocupa, que amanhã o dia amanhece dezembro.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Nuvem.

A última coisa em que eu pensei foi na primeira vez que eu comi algodão doce.
Era um dia de sol e foi a minha primeira vez em um parque de diversões. Por sorte eu era baixa o demais para não ir nos brinquedos mais assustadores, então poderia aproveitar o que normalmente as outras pessoas não aproveitavam, como carrinhos que batiam, rodas gigantes que giravam e elefantes que voavam.
E algodão doce, é claro.
Lembrava uma nuvem, uma nuvem rosa da cor do meu vestido. E eu demorei horas para comer aquele único algodão doce, quase uma eternidade, porque eu não queria que o gosto saísse da minha boca nunca.
E de fato, depois daquele dia existiram muitos algodões-doces em minha vida, mas nenhum foi como aquele. Nenhum foi tão doce ou tão rosa ou parecia tanto com uma nuvem. E eu procurei. Mas quanto mais procurava, mais me decepcionava, por não achar um que se quer fosse parecido.
A última coisa em que eu pensei foi algodão doce. E em nuvens cor de rosa.
Depois, eu morri.

domingo, 20 de novembro de 2011

Sexta de Música #22

Onde já se viu o mar apaixonado por uma menina?
Quem já conseguiu dominar o amor?



Quinta de Poesia #22

Amanhecer

Levanta a cortina dos teus olhos
Contempla a maravilha do amanhecer
A vida é uma criança,
esperta, bonita, inteligente
Passa correndo, é preciso ver
Acredita, enquanto há tempo:
não existe dor sem alento
nem tristeza tão longe da alegria
quando a luz de cada dia,
acende a vida,
iluminando o amanhecer
Não vacila, toma posse
da imensa alegria de viver.



Ivone Boechat

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Memórias de Penteadeira III.

Lembra de quando você recebia telefonemas às 3 horas da manhã e atendia com a voz rouca de sono? Esses telefonemas eram meus.
Eu sabia que assim que acordasse, você viria até aqui com a mais recente edição daquele jornal inglês e me contaria dos telefonemas estranhos que ocorriam de madrugada, que nada diziam e logo desligavam.
Sabe... é que muitas noites eu sentia sua falta quando não estava aqui e precisava te ligar só para saber se era mesmo verdade que você existia. Era pelo mesmo motivo que eu encostava a cabeça no seu peito antes de adormecer, só para sentir sua respiração irregular e seus batimentos cardíacos.
Eu precisava saber se era real.
Não me culpe, eu simplesmente não soube reconhecer a felicidade quando a encontrei. Eu só soube te necessitar.
E necessito.
Ainda necessito.
E aonde está você agora?
Lembra de quando você recebia telefonemas às 3 horas da manhã?
Até que em uma madrugada você não atendeu.
E no dia seguinte eu não li a edição mais recente daquele jornal inglês.

Herói.

Quando vai entender que preciso ser salva? Preciso que levante correndo da cama de madrugada, vista sua capa e venha voando me ver.
Olha no seu cinto de utilidades, vê se não encontra algo que talvez me pertença, provavelmente meu coração, e traz ele para mim.
Me salva, me tira dessa solidão.
Te juro que nem precisa ficar de ponta cabeça, pendurado em uma teia,  para eu te beijar. Te juro que não conto sua identidade para ninguém, mas tem que me prometer exclusividade.
Você me salva e eu te salvo, combinado?
Agora me tira dessa solidão que eu tiro essa kriptonita de perto de você.
Só levanta da cama, veste essa capa e vem. Mas vem rápido, vem voando.

domingo, 13 de novembro de 2011

Ana e o Mar.

A primeira vez que Ana conheceu o mar, conheceu também o amor.
Assim que Ana chegou perto, o mar se agitou. Afinal, o amor era algo novo para ele também.
O mar beijava os pés de Ana declarando sua paixão e Ana sorria admirada pelo seu amado.
Eles se pertenciam. Mas não deveriam se pertencer.
Onde já se viu o mar apaixonado por uma menina?
O amor prega peças, não se pode controlá-lo. Ana se apaixonou pelo mar e ele por ela. O mar pertencia à Ana e Ana queria pertencer ao mar.
A primeira vez que Ana conheceu o mar, conheceu também o amor.
Mas no mesmo dia, conheceu a ilusão.
O mar ainda era de todos, não pertencia só à Ana.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Sexta de Música #21

Eu quero um beijo de cinema americano
Fechar os olhos fugir do perigo
Matar bandido, prender ladrão
A minha vida vai virar novela
Eu quero amor, eu quero amar
Eu quero o amor de Lisbela
Eu quero o mar e o sertão



quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Quinta de Poesia #21

Encarar a vida pela frente, e vê-la como ela é...
Por fim, entendê-la e amá-la pelo que ela é...
E depois deixá-la seguir...
Sempre os anos entre nós, sempre os anos...
Sempre o amor...
Sempre a razão...
Sempre o tempo...
Sempre…As horas…

Virginia Woolf

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Untitled.

É engraçado? Você chegou, bagunçou a minha vida, me trocou. Já sofri demais, chega, já pode parar de rir.
Desfaz essa macumba, você que tanto pediu para eu te esquecer, não me deixa em paz. Eu procurei outras pessoas e achei alguém melhor que você, só que você, meu encosto, não permite que eu seja feliz.
Vamos combinar uma coisa? Da próxima vez trate sua carência em um bordel e mate sua saudade revendo minhas fotos. Tira meu telefone da discagem rápida e troca pelo de um terapeuta, arruma uma mulher e usa todo o seu ciúme doentio com ela. Me exclui de todas as redes sociais e pára de stalkear até meu cachorro.
Apenas me esqueça. Você que sempre foi especialista em me trocar, por que não faz isso de uma vez por todas? Se perdeu a graça para você me ver sofrer, imagina para mim...
Eu posso não ter você, mas uma coisa eu ainda tenho, baby, meu sono. Esse eu não perco nunca. Fica com as suas paranoias, que eu vou dormir em paz.

sábado, 15 de outubro de 2011

Chuva.

Caia.
Lave minha alma, limpe minha mente.
Me liberta, me leva com você, me faz chover também.
Me dê a energia do céu, da natureza, da vida.
Molha meus problemas, deixe que eles virem açúcar e derretam. Molha minhas alegrias, deixe que elas floresçam.
Faça do meu coração chuva e o faça chover. Limpe todas as paredes, tire suas impurezas, as pessoas ruins que passaram por ele e deixe apenas coisas boas. Bons amores, bons amigos.
Limpe também minha mente, deixe as lembranças da infância, mas tire a dos amores perdidos da adolescência.  Não deixe que eu me esqueça de quem já se foi e me queria bem.
Apenas caia.
E lave.
Mente, alma, coração, corpo, pessoas, mundo, ruas, árvores, animais.
Apenas caia.
E lave.


domingo, 9 de outubro de 2011

Sexta de Música #20


I remember how we used to be
Without the world upon our TV
Well can take it back or you let it lie
Wrap your life around evil's trap



quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Félix.

O silêncio e a escuridão são meus únicos companheiros agora que ela se foi, mas a desgraçada tinha de sangrar tanto?
Com cuidado tiro um cacho loiro (agora com pontas vermelho-sangue, literalmente) do rosto angelical da bela décima quarta. Dou uma última olhada em seu corpo, mesmo morta ela ainda é de tirar o fôlego. Mas isso já é doença, lembro-me enquanto fecho a porta.
No dia seguinte todos os tablóides expõem a décima quarta reclamando que sua morte foi "cruel e claramente sem motivo algum", pela décima quarta vez, eles estão errados. Eu tinha um motivo. Não sou uma pessoa cruel.
Eu deveria parar por aqui, esse jogo está ficando cansativo e perigoso, mas eu não consigo. Tudo se resume ao prazer. Cada vítima é como a primeira, os gritos são estimulantes, o coração batendo acelerado, as pupilas dilatadas de medo, tudo isso é lindo. E o sangue? Só de lembrar do cheiro e da cor do sangue delas sinto um prazer quase orgásmico.
A escolha das meninas é simples, normalmente são secretárias, a cor do cabelo não importa, muito menos o local aonde trabalham. A única coisa que me interessa é a condição de cometer o crime, por isso a maioria acaba sendo secretária.
Normalmente eu estou sentado em um café, um lugar como o Starbucks e a vítima me escolhe, como a ruiva sentada em minha frente que acaba de escolher a morte. Eu só preciso de um sorriso e um olhar em minha direção, como esses que ela acaba de me dar. Mas acima de tudo, é o sangue que me atrai. Um olhar e um sorriso bastam para que eu deseje o sangue dela. Mas por hora eu vou apenas segui-la e descobrir o melhor jeito de matá-la.

Quinta de Poesia #20

Em Março de 79

Farto de todos aqueles que com palavras fazem palavras mas onde não há uma linguagem;
Dirigi-me para a ilha coberta de neve.
A veação não conhece palavras.
As páginas em branco dispersam-se em todas as direcções.
Eu dei com vestígios de cascos de corça na neve.
Linguagem, mas nenhuma palavra.

Tomas Tranströmer

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Sexta de Música #19

And there's the truth that they can't see
They'd probably like to throw a punch at me
And if you could only see them, then you would agree
Agree that there ain't no romance around there



Quinta de Poesia #19

O DOCE SABOR DE UMA MULHER DESLUMBRANTE


Uma mulher deslumbrante
não é aquela que mais
homens tem a seus pés.
Mas sim aquela que tem
apenas um que a faça
realmente feliz.

Uma mulher formosa não
é a mais jovem.
Nem a mais frágil, nem aquela
que tem a pele mais sedosa ou
o cabelo mais chamativo.

É aquela que com apenas
um sorriso franco e aberto
e um bom conselho pode
alegrar-te a vida.

Uma mulher de valor não,
é aquela que tem mais
títulos ou cargos academicos,

E sim aquela que sacrifica
seus sonhos temporariamente
para fazer felizes os demais.

Uma mulher deslumbrante não
é aquela mais ardente e sim a
que vibra ao fazer amor somente
com o homem que ama.

Uma mulher deslumbrante não
é aquela que se sente adulada
e admirada por sua beleza e
elegancia,

E sim aquela mulher firme
de caráter.
Que pode dizer "Não".

E um Homem...

Um homem deslumbrante
é aquele que valoriza uma
mulher assim...

Que se sente orgulhoso de
tê-la como companheira...
Que sabe acaricia-la como
um músico virtuoso toca
seu amado instrumento...

Que luta a seu lado compartilhando
todas as suas tarefas, desde lavar
pratos e preparar a mesa, até
devolver as massagens e o carinho
que ela te proporcionou antes.
A verdade, companheiros homens
é que as mulheres com mania de
serem "mandonas" não levam
vantagens...

Que tolos temos sido e somos
quando valorizamos um presente
somente pela vistosidade do pacote...

Tolo e mil vezes tolo o homem que
come sobras na rua, tendo um
deslumbrante manjar em casa!

Gabriel García Marquez

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Minha menina.

Eu costumava ter um amor, a minha menina. E eu a amava de um jeito único, como deve ser. Mas eu tinha medo, medo de não ser suficiente para ela, medo de que tudo o que me fazia amá-la acabasse nos afastando.
Eu não compreendia o amor dela por mim, eu demonstrava meus sentimentos todo o tempo e ela se calava. Eu não compreendia que na verdade, ela queria me dizer que não haviam palavras, o amor estava ali e não precisava ser dito.
Eu não entendia essa necessidade dela de ajudar o mundo inteiro, mas ela tinha essa mania, achava que era Doroty. Queria dar coragem ao Leão, um coração ao Homem de Lata e um cérebro ao Espantalho. "Você não tem o mundo nas mãos, garota", eu tentava dizer, mas não adiantava. Ela queria abraçar o mundo, achava que podia. E no final, ela podia mesmo.
"E toda essa dor, menina? Por um acaso é escritora? E essa mania de encontrar Deus no mendigo? É Clarice Lispector?", eu acusava-a disto o tempo inteiro e ela apenas sorria, porque ela sabia os todos segredos de seu mundo.
Às vezes eu só queria mostrar as coisas como realmente eram, mas era ela que me mostrava tudo sem que eu percebesse.
Agora que ela não está aqui, me sinto um idiota por não enxergar essas coisas, por não ver que quando me presenteava com textos de Caio Fernando de Abreu, ela me dizia que era lá que estava. Nua e crua, nas palavras de outro homem. Um homem que nem a conhecia, mas ao contrário de mim, sabia decifrá-la. Agora eu só queria voltar ao tempo e dizer que não me importava, que eu amava por nós dois, que eu poderia dividi-la com o mundo, que se me contasse, entenderia sua dor. Agora eu só queria tê-la aqui comigo, abraça-la, deixar claro de que sua dor, poderia dividir comigo e dizer que a amo. Agora eu só queria que ela ainda me amasse a sua maneira.
Mas agora é tarde demais, é tarde para compreendê-la, é tarde para ela me compreender. Ela se cansou de mim e se cansou de me amar. Ou se cansou de que eu exigisse de seu amor.
Mas eu costumava ter esse amor. E eu a amava (e continuo amando) de um jeito único, como deve ser.

"Ela é mais que um sorriso tímido de canto de boca, dos que você sabe que ela soube o que você quis dizer. Ela fala com o coração e sabe que o amor, não é qualquer um que consegue ter. Ela é a sensibilidade de alguém que não entende o que veio fazer nessa vida, mas vive." (Caio Fernando de Abreu)

terça-feira, 20 de setembro de 2011

A fé que você deposita em você e só.

Feche os olhos por um momento.
Você confia em si mesmo?
Você se arriscaria agora? Jogaria tudo para o alto e iria atrás da sua felicidade sem pensar em ninguém mais?
Você faria isso? Esqueceria sua família, seus amigos, seus amores e pensaria  em você?
Você consegueria? Ser egoísta por meia hora, que seja, em prol da sua felicidade?
Entenda bem, não estou falando de magoar ninguém. Quero apenas saber se você esqueceria os outros para se lembrar de você mesmo.
Se olha no espelho, faça o que eu estou fazendo. Se questione.
O que você faz pelos outros, eles fariam por você? Tem alguém pondo sua felicidade em risco para te ver sorrir?
Você daria tudo só por você?
Você confia em si mesmo?
Confia?
Pois é, eu sabia. Pelo visto somos bem parecidos. Portanto não me julgue quando me deixo de lado só para pensar nos outros.


"A Felicidade tem amnésia, é preciso lembrá-la todo dia que você existe." (Sérgio Vaz)

domingo, 11 de setembro de 2011

Abismo.

Não sei porque eu trouxe relógio. É paz o que eu procuro, então por que eu trouxe o relógio?
Não sei como escolhi esse lugar, essa beleza silenciosa não merece o barulho que há dentro de mim. Ainda assim é o lugar certo.
(...)
Vai chover. E eu ainda estou aqui. Agora tenho ainda mais certeza de que não pertenço à lugar nenhum. O vento e a (quase) chuva tentam me expulsar da montanha. Mas ainda não é a hora.
(...)
Um trovão anuncia que a hora chegou. Me despeço mentalmente de qualquer coisa que ainda poderia me prender a esse lugar, fecho os olhos, me aproximo do abismo.
(...)
E caio.
Caio.
Caio.
O vento passa forte por mim, enquanto caio.
É assim que morre? Sentindo essa paz?
(...)

(nota: há meses tento terminar esse texto e nunca consigo, mas ainda assim, vejo beleza nele e queria compartilha-lo mesmo que incompleto)

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Sexta de Música #18

Quem é mais sentimental que eu?

Eu disse e nem assim se pôde evitar
De tanto eu te falar você subverteu o que era um sentimento
E assim fez dele razão pra se perder
No abismo que é pensar e sentir




sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Memórias de Penteadeira II.

A saudade cansa, querido. Meus olhos estão pesados de sono e tudo o que faço é dormir. A saudade dá sede, amor. Sede de whisky e conhaque, enquanto o álcool queima a garganta, a saudade apazigua. A saudade tem desejo, querido. Desejo de se matar. E só te ver, te tocar, te sentir, poderia matá-la.

Por que eu não consigo te esquecer? Tudo ainda lembra você, por mais que seu cheiro tenha se perdido no tempo.

 Lembra quando você cantava aquela música dos Los Hermanos e reclamava porque era mais sentimental e sempre sofria mais? No final quem acabou sofrendo? Fui eu, amor. A sentimental da história no fim fui eu.
Você sempre me perguntava por que ser assim tão fria. A vida me ensinou a ser fria, você me ajudou a esquentar. Então você se foi e aqui estou eu, fria novamente. Não sei se outro alguém vai conseguir me esquentar de novo, amor. Eu mudei sem você aqui, toda essa frieza que me atingiu, é uma frieza nova. E se você voltar? Provavelmente não vou conseguir lidar com você. Se eu mudei, você que é mutante deve estar completamente diferente. É por isso que você se foi? Eu te atrapalhava, não te deixava mudar? Você se foi para poder ser mutante sozinho? Eu poderia ser mutante com você se me ensinasse, amor. Eu juro que poderia. Eu juro.
A saudade cansa, querido. E eu já estou exausta dela.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Quinta de Poesia #18

Teus olhos são lassos, amante!
Olhos em sono a se perder,
Nesta posição tão distante
Pode surpreenter-te o prezer
E pelo pátio o jorro de água
Não cala nunca o seu rumor,
E entretém a extasiada mágoa
Em que pode atirar-me o amor.

Mas o amor irradia
E é odo flores
Ede Febo a alegria
Enche-o de corres
E tal chuva desfia
Imensas dores

Charles Baudelaire

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Evangeline.

Um borrão. Quando eu olho para o monitor só vejo um borrão com um esboço de olhos, nariz e boca. Estão dizendo que esse borrão é meu filho.
Não sei se ele será ruivo ou moreno, se puxará as nossas manias ou terá as dele. Não sei se será tímido como eu ou um conquistador como o pai. Eu só quero que ele nasça perfeito. Cinco dedos em cada mão, uma visão perfeita, uma audição perfeita e um choro que preencha todo o vazio dessa casa. Eu só quero que ele ande, ou melhor, corra, por todo lado e peça uma casa na árvore de Natal, assim ele poderá subir nos galhos e se esconder no alto sempre que estiver perto de levar uma bronca.
Eu quero que ele namore bastante também e me conte tudo. Vou engolir meus ciumes e torcer para que a garota faça por merecer o meu filho. Eu quero que ele encontre um amor como eu encontrei em seu pai, e se entregue. Leve flores caso a menina goste, seja romântico e diga "eu te amo" só para vê-la enrubescer e sorrir.
Eu espero que ele seja médico ou então professor, advogado, jogador de futebol, arquiteto, qualquer profissão que ele escolher. Eu espero que ele sonhe e consiga alcançar todos os seus sonhos, por mais que não acreditem nele. Eu espero que ele me ame, tanto quanto eu o amo desde agora e o amarei depois. Eu espero que ele confie em mim e tenha sempre orgulho de dizer "essa é a minha mãe". Eu espero que eu consiga aprender a ser uma boa mãe.
Pode ser um borrão, mas é o meu borrão. O borrão que ainda não tem nome, mas já tem sobrenome. O borrão que eu não esperava, mas agora aguardo ansiosa.

-

(nota: inspirado em Evangeline Green, do livro "Olhos de Menina" da autora Susan Fletcher)

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Sexta de Música #17


A far l'amore in tutti
I modi, in tutti i luoghi in tutti i laghi in tutto il mondo
L'universo che ci insegue ma
Ormai siamo irraggiungibili…





Dimitri.

"Você pode ter qualquer um que quiser, Dimitri". Em toda a minha vida, disseram isso à mim, infelizmente não posso ter quem eu quero no momento.
Deus. Simplesmente não há palavra melhor para defini-lo. Os olhos cor de mel, a boca carnuda que guarda um sorriso que ilumina qualquer lugar, a pele bronzeada, o cabelo jogado para o lado...
Mas quando olho para a mão dele, percebo que está entrelaçada em outra mão, a mão de uma deusa, a mão da minha melhor amiga.
Desde então os dias têm sido assim, acordar de um sonho perfeito, em que a mão dele entrelaça a minha, em que a boca dele beija a minha. Todos os dias têm sido assim, acordar de um sonho perfeito e perceber que a vida não é como o sonho e a mão dele entrelaça outra mão, a boca beija outra boca, mas nunca a minha.
Por um momento nos olhamos nos olhos e eu sinto que ele sabe, que ele entende. E por um momento acredito que ele largará o violão e virá de encontro a mim e sem mais delongas dirá que está confuso e que talvez esteja apaixonado por mim. Mas ao invés disso ele desvia o olhar pra o violão e recomeça outra música, sem vir até mim, sem estar confuso, sem a possibilidade de estar apaixonado.
Me afasto mais e fico a olhar de longe, admirando aqueles olhos cor de mel, que sorriem. Sorriem para ela e provavelmente por ela.
Concordo com o resto do mundo, eles fazem um belo casal, eles se completam. E eu sou só um intruso. Um intruso que na verdade nunca entrou, que na verdade só ficava assim... de longe, admirando.
Em uma outra vida talvez? Talvez...
(mas nos meus sonhos eu sei que posso mais.)

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Quinta de Poesia #17

Fanatismo

Minhálma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és se quer razão do meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!

Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo, meu amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!

"Tudo no mundo é frágil, tudo passa..."
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!

E, olhos postos em ti, digo de rastros:
"Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: Princípio do Fim!..."

Florbela Espanca

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Sexta de Música #16

Sei que a hora é dela
E ninguém mais tem
O dever de se importar
Mas nessa fase
A gente perde


quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Quinta de Poesia #16

"É sempre no passado aquele orgasmo,
é sempre no presente aquele duplo,
é sempre no futuro aquele pânico.

É sempre no meu peito aquela garra.
É sempre no meu tédio aquele aceno.
É sempre no meu sono aquela guerra.

É sempre no meu trato o amplo distrato.
Sempre na minha firma a antiga fúria.
Sempre no mesmo engano outro retrato.

É sempre nos meus pulos o limite.
É sempre nos meus lábios a estampilha.
É sempre no meu não aquele trauma.

Sempre no meu amor a noite rompe.
Sempre dentro de mim meu inimigo.
E sempre no meu sempre a mesma ausência".

Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Cecília.

"Querida irmã,
a vida na cidade grande é dura. Não há cor. Há pecado por todo o lado, ninguém se respeita, ninguém se importa, ninguém se cumprimenta, todos são solitários.
Eu me pergunto aonde está a música, mas não há. Eu me pergunto aonde está a inocência, mas ela só é encontrada em quem acaba de nascer.
É difícil, irmã, para uma garota do interior se acostumar com a cidade. Eu sinto sua falta. Eu sinto falta da pequena igreja, da conversa na praça, de deixar a porta aberta, das pessoas sem malícia. Mas principalmente, eu sinto falta do céu e das estrelas. Os prédios me impedem de ver o céu, o cinza e a poluição impedem que as estrelas apareçam.
Sabe, acho que desaprendi a ser feliz aqui na cidade. É mais fácil me misturar ao humor sórdido e cinza daqui do que sorrir e assumir uma posição feliz e colorida.
As pessoas repugnam a cor. Isso me assusta.
Não há futuro, irmã. Não há salvação para essas pessoas ou para essa cidade.
Desculpe irmã, mas depois de ver o mundo como ele realmente o é, não vejo motivos para continuar aqui.
Desculpe irmã, mas essa será a última vez que terá noticias de mim, pois eu pecarei. Pecarei em uma forma de me encontrar com Ele e me livrar dessa imundice de mundo.
Por favor, não chore com minha partida, um dia nos encontraremos e em um lugar muito melhor.
Com amor,
Cecília."

E a cidade se calou. Houve um longo silêncio entre uma onda e outra, enquanto Cecília caía. Mas ela estava certa, ninguém se importava. A cidade voltava para os seus barulhos, a sua falta de cor e os seus pecados, enquanto Cecília ia de encontro à sua felicidade.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Sexta de Música #15

Tudo é relativo
Quando te fazer feliz
Me faz feliz
Se a história for
Sempre assim
Melhor pra mim...


quinta-feira, 28 de julho de 2011

Quinta de Poesia #15

CANTO A MIM MESMO

Estão todas as verdades
À espera em todas as coisas:
Não apressam o próprio nascimento
Nem a ele se opõem;

Não carecem do fórceps do obstetra,
E para mim a menos significante
É grande como todas.
Que pode haver de maior ou menor do que um toque?

Sermões e lógicas jamais convencem;
O peso da noite cala bem mais
Fundo em minha alma.

Só o que se prova a qualquer homem ou mulher,
É o que é;

Só o que ninguém pode negar,
É o que é.

Um minuto e uma gota de mim
Tranqüilizam o meu cérebro:

Eu acredito que torrões de barro
Podem vir a ser lâmpadas e amantes;

Que um manual de manuais é a carne
De um homem ou de uma mulher;

E que num ápice ou numa flor
Está o sentimento de um pelo outro,

E hão de ramificar-se ao infinito,
A começar daí­,
Até que essa lição venha a ser de todos,
E um e todos possam nos deleitar

E nós a eles.

Walt Whitman

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Bess.

Com muito pesar ela se levantou. Eram onze horas da noite e ela não passaria outra noite sozinha em casa, ela não. Foi até o telefone e apagou todas as mensagens daquele imbecil, hoje nem mesmo ele iria estragar a sua noite. No rádio Julian Casablancas pedia "Forgive then even if they are not sorry ", Bess apenas acendeu outro cigarro e sorriu irônica.
Todos diziam que Bess era como uma fênix e sempre conseguia renascer das cinzas, ela prometeu a si mesma que hoje renasceria com uma boa aparência. Com uma calça de couro preta, uma blusa branca o suficiente rasgada para que pudessem ver todas as tatuagens que ela possuia, uma jaqueta de couro preta, um salto alto o bastante para que voltasse quebrado, olhos marcados e delineados de preto e um batom vermelho-sangue saiu em busca de aventura na fria Londres.
Assim que chegou no pub foi direto encontrar os seus amigos na mesa atrás do bar. O lugar era quente e escuro, apenas com algumas luzes vermelhas para iluminar. Perfeito para o que os frequentadores estavam acostumados a fazer. Em cima da mesa, haviam várias carreiras de cocaína prontas para serem consumidas, Bess pegou um canudo e puxou quase metade de uma carreira. Em um movimento rápido jogou o cabelo louro-branco (que ela mesma cortara) para trás, com outro movimento tirou a franja torta de seus olhos. A adrenalina e a euforia começavam a correr por suas veias. Mas ela queria mais, ela precisava de um efeito imediato. Com o dedo pegou o resto do pó e passou em sua gengiva.
E então ela olhou a sua volta e viu...
Há três anos ela frequentava esse lugar e era sempre a mesma coisa, o clichê de "sex, drugs and rock and roll" e seria assim até quando? Aos vinte e sete anos ela já não era mais nenhuma criança, não poderia continuar vivendo assim. Brincando de viver assim. Aos vinte e sete anos ela daria uma de Kurt Cobain e se mataria? Morreria com o tamanho do seu ego misturado com a sua dor? Mas ela não era Kurt Cobain, nem tinha o seu talento. Ela era apenas a Bess, a fênix Bess, a metamorfótica Bess.
O dia estava quase amanhecendo quando Bess saiu do pub, trôpega e ainda sobre o efeito da droga, ela olhava para o céu através de seus óculos escuros.
A fênix iria renascer mais uma vez.
Para uma vida diferente agora. Uma vida que mereça ser vivida.

Adam.

A primeira vez que eu o vi, tinha apenas cinco anos. Como em praticamente toda a minha infância, eu estava doente, então ele chegou de fininho e não disse nada, só segurou a minha mão. E nunca mais largou.
Se não fosse a mão dele segurando a minha, eu nunca teria enfrentado o primeiro dia do jardim de infância ou teria dito para o garoto melequento que implicava comigo o quanto eu o odiava. Se não fosse a mão dele segurando a minha, eu não aguentaria comer todas as verduras que me obrigavam ou aguentado a separação dos meus pais.
Adam foi o meu melhor amigo na infância (e depois, é claro, em toda a minha vida), me contava histórias sobre Napoleão, Henrique VIII e Colombo, me ensinou toda a história do mundo. Brincávamos de dar formas às nuvens. Ele via dragões, rostos, árvores... por causa dele eu só via corações.
Adam foi o meu maior segredo, nunca contei sobre ele para ninguém. Só de imaginar outra pessoa sentada ao seu lado, sentindo a força do seu olhar, me fazia sentir calafrios. Costumavam dizer que eu deveria ter algum problema mental por andar sempre sozinha, ninguém entendia. Adam entendia. Desde aquele dia, quando ele pegou pela primeira vez em minha mão, eu soube que ele seria o único a me entender.
Ele foi meu único amor.
Mesmo que nunca tenha realmente existido.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Sexta de Música #14

Old habits die hard
When you got
When you got
A sentimental heart


Quinta de Poesia #14

O amor depois do amor

Há de chegar a hora
em que, com alegria,
você vai se cumprimentar ao chegar
à porta de casa, em seu próprio espelho,
e cada um sorrirá diante da acolhida do outro,

e dirá, sente-se aqui. Coma.
Você amará de novo o estranho que era si mesmo.
Dê vinho. Dê pão. Devolva seu coração
a ele mesmo, ao estranho que amou você

desde que você nasceu, que você ignorou
por outro, que o conhece de cor.
Tire as cartas de amor da estante,

as fotografias, os bilhetes desesperados,
tire sua própria imagem do espelho.
Sente-se. Celebre sua vida.

Derek Walcott

domingo, 29 de maio de 2011

Memórias de penteadeira.

Hoje eu senti seu cheiro. Estava andando na rua e uma brisa me trouxe você. Me perguntei se foi a mesma que o trouxe há alguns anos e lhe tirou logo depois. Mais tarde pensei ter visto o seu rosto, mas era apenas a saudade me fazendo vê-lo em qualquer lugar. Cansada da rua e de te procurar em todos que passavam por mim, retornei para casa. Mas você está aqui.
No rádio é a canção que você dedicava a mim que toca, na secretária eletrônica é a sua voz que avisa que estamos ocupados. Mas não estamos mais ocupados e a música agora me soa triste. Se fecho os olhos durante o banho ao invés da água, sinto seus dedos massageando minhas costas e seu hálito quente no meu pescoço. No espelho, às vezes é o seu reflexo que vejo. Eu me tornei você. E agora odeio ser somente eu.
Você está nas paredes, no teto, em todos os porta-retratos, na cama, no sofá, na tv. Sinto vontade de me mudar para tentar te esquecer, mas eu sei que isso não adiantará. Porque não é só nas coisas materiais que você está, é em meu coração.
E se eu me mudar e você resolver voltar? Não me encontrará. Então não sairei do lugar até que você venha me buscar e me levar para onde for. Me leva amor, para qualquer lugar do mundo, mas me leva com você. Me bota na mala, me leva aonde for. Eu quero estar com você, eu quero ser você novamente. Por favor.
Volta amor. Volta. Estou cansada de ver o mundo em preto-e-branco, preciso que você venha colorir ele para mim.
Brisa traga o meu amor de volta, eu preciso dele.

Você.

Eu queria ter certeza da cor deles. Mas afinal são verdes ou azuis? Às vezes me parecem cinzas. Quando está com raiva ou ciúmes, eles escurecem e clareiam sempre que você sorri, aliás, você sabe sorri usando-os com perfeição.
E o que em ti não é perfeito?
Seu nariz é perfeito. É grande de uma forma que parece denotar masculinidade, eu adoro ele. Gosto de percorrer sua extremidade com a ponta do dedo e vê-lo sorrir quando o faço.
Sua boca é perfeita. Eu poderia passar a eternidade beijando-a.
Seu queixo é perfeito. Essa covinha que ele tem o deixa tão sexy. Eu quero mordê-lo, quero agora. Mas isso poderia acordá-lo e ainda tenho muita coisa para ver.
Ultimamente ando me forçando a passar as noites em claro, só para poder te admirar. Cada pedacinho perfeito do seu corpo, até mesmo a perfeição com que você inspira e expira, é nas madrugadas que percebo isso com clareza.
E por um momento eu sinto que pertencemos mesmo um ao outro e que esse instante durará para sempre.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Sexta de música #13

When the evening shadows
And the stars appearAnd there is no one there
To dry your tearsI could hold youFor a million years
To make you feel my love


Quinta de Poesia #13

Reflexo

As coisas acontecem assim em minha vida: vêm de um algum lugar estreito e chuvoso, a cavalo, a galope, entram em mim, não sei como, e se espalham, se derretem, se fundem, se magmam. Amanhecem, ensolaram. Depois me habitam, não estando, mas sendo. As coisas dentro de mim não são mais coisas, apenas são. E ficam. E ficam.

Ficam escondidas, mas ficam.

Ficam retidas, amalgamadas, empedram, incrustam.

De vez em quando, vê-se um de seus raios em meio a uma minha gargalhada.

Mas é um reflexo, apenas. Um reflexo, como um soluço, como um suspiro.

Como uma gargalhada.

À tarde, elas se vestem em luvas. E às vezes me arranham, e às vezes me afagam.

Não tenho medo, exatamente. Nada é exato dentro de mim.

Dentro de mim, não há ciência, nem soft sciences, nem hard.

Aqui dentro, nada hard, mas tudo arde.

Uma fome tenra, tão tenra que nem existe.

Uma fome talvez transformada em lava.

Um impulso amarrado em rédeas que não levo.

Que amarras? Tudo arde.

Sonhos dilatados em uma réstia de essência

São a extensão do meu céu, e povoam minhas noites

Não recuso paixão, e não recuso permanência.


Alessandra Siedschlag

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Sexta de Música #12

Some people think they're always right
Others are quiet and uptight
Others they seem so very nice nice nice nice (oh-ho)
Inside they might feel sad and wrong (oh no)


quarta-feira, 18 de maio de 2011

Alice e Pedro.

Era um sábado, mas não era um sábado qualquer, era carnaval. O relógio despertou e lentamente Alice se levantava, seria um longo dia, mas se previamente ela já imaginasse o que iria acontecer talvez se levantasse mais disposta. Se vestiu da maneira que havia combinado com as amigas e foi aproveitar o que o Rio de Janeiro tem de melhor para oferecer.
Duas horas depois, quatro homens que nada são além de quatro números para se somar na lista e o carnaval mostrava porque era a época mais esperada do ano. Ao caminhar pela multidão, entre milhares de rostos um se destacou. O desejo e reconhecimento mesclavam-se nos olhos de Alice e sua boca mal podia controlar o sorriso que se formava. Alice se aproximou devagar, (não pela dramatização da coisa, e sim, por estar andando contra a multidão) Pedro a reconheceu. Levados pela música, dançaram, separados e depois juntos. E então o mundo desapareceu. A música que dançavam já não era mais a mesma que estava tocando, era um ritmo que só eles conheciam e embalados por esse ritmo único, se beijaram.
Então eles cometeram um erro grave. Fizeram promessas e todos sabem que promessas foram feitas para serem quebradas. Mas não importava, eles só queriam se entregar àquele momento. Mas era tarde demais. Talvez nunca tenha sido o tempo certo ou até mesmo o lugar certo. A música que só eles ouviam aos poucos cessava, o mundo ao redor deles aos poucos voltava e eles sabiam que chegava a hora de se separarem.
Foram só alguns minutos, talvez somados não formem uma hora inteira, mas valeu a pena. E Alice não se esqueceu disso, Pedro talvez ainda se recorde. E o futuro ainda está acontecendo, pode ser que em alguns dias eles se reencontrem e ambos estejam preparados para o que está por vir.

sábado, 14 de maio de 2011

Quinta de Poesia #12

Amo-te por sobrancelhas

Amo-te por sobrancelhas, por cabelo, debato-te em corredores
branquísimos onde se jogam as fontes da luz,
Discuto-te a cada nome, arranco-te com delicadeza de cicatriz,
vou pondo no teu cabelo cinzas de relâmpago
e fitas que dormiam na chuva.

Não quero que tenhas uma forma, que sejas
precisamente o que vem por trás de tua mão,
porque a água, considera a água, e os leões
quando se dissolvem no açúcar da fábula,
e os gestos, essa arquitectura do nada,
acendendo as lâmpadas a meio do encontro.

Tudo amanhã é a ardósia onde te invento e desenho.
pronto a apagar-te, assim não és, nem tampouco
com esse cabelo liso, esse sorriso.

Procuro a tua súmula, o bordo da taça onde o vinho
é também a lua e o espelho,
procuro essa linha que faz tremer um homem
numa galería de museu.

Além disso quero-te, e faz tempo e frio.


Julio Cortázar

Fugacidade.

(ou o que se perde enquanto os olhos piscam.)

Abre os olhos. Primeiro choro, primeiro colo, primeira coisa a comer, primeiro cochilo, primeiro banho, primeiros passos, primeiras palavras, primeiros amigos, primeira viagem, primeira vez a ver o mar. Pisca. Maternal, novos amigos, corte e colagem, sorvete, pique-pega, policia e ladrão, elefantinho colorido. Pisca. Jardim de infância, ler as primeiras palavras e também escrevê-las, natação, mais sorvete, mais pique-pega, mais todas as brincadeiras. Pisca. Escola novo, amigos novos, primeiro sutiã, ensino fundamental, primeiro beijo, primeira paixão. Pisca. Primeira briga com a melhor amiga, primeiro namorado, festa de quinze anos, ensino médio, formatura. Pisca. Primavera, verão, outono, inverno. Pisca. Faculdade, vodka, cerveja, tequila, sexo. Pisca. Conhecer o amor da sua vida, olhá-lo nos olhos pela primeira vez, beijá-lo pela primeira vez e casar com ele. Pisca. Filhos, netos e bisnetos. Pisca. Abre os olhos. Pisca. Tenta abrir. Pisca. Fecha os olhos. Para sempre.

O tempo é tão fugaz que quando você finalmente percebe, grande parte da sua vida já passou diante dos seus olhos e você não aproveitou.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Sexta de Música #11


Eu pensei que quando eu morrer
Vou acordar para o tempo
E para o tempo parar



quinta-feira, 5 de maio de 2011

Quinta da Poesia #11

A coisa mais injusta sobre a vida é a maneira como ela termina. Eu acho que o verdadeiro ciclo da vida está todo de trás pra frente. Nós deveríamos morrer primeiro, nos livrar logo disso.

Daí viver num asilo, até ser chutado pra fora de lá por estar muito novo. Ganhar um relógio de ouro e ir trabalhar. Então você trabalha 40 anos até ficar novo o bastante pra poder aproveitar sua aposentadoria. Aí você curte tudo, bebe bastante álcool, faz festas e se prepara para a faculdade.

Você vai para colégio, tem várias namoradas, vira criança, não tem nenhuma responsabilidade, se torna um bebezinho de colo, volta pro útero da mãe, passa seus últimos nove meses de vida flutuando. E termina tudo com um ótimo orgasmo! Não seria perfeito?


Charles Chaplin

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Três.

De repente você não está sozinha. Não é um ou dois, é três.
Por ser três você é tripé, é triângulo, é trilogia, é número primo, então não pode dividir. É também mosqueteiro, espiã demais, pateta, até porquinho é.
Três é estável ao contrário do dois que vive brigando por causa das diferenças. Três é união, equilíbrio, força. Três é base.
Assim como o um (sim, até mesmo o um) e o dois, três têm suas diferenças, mas por ser três supera. Porque se dois não superam o um que se soma ajuda a superar.
Três é três vezes mais. Então nunca falta. Mas também não sobra, três é feito sob medida pra ser três.

De repente você percebe que sempre foi três e sempre vai ser. E que o tempo pode passar, as coisas podem mudar, você pode mudar, mas sozinha você nunca vai estar, porque só o fato de ser três não te deixa ficar sozinha.

P.s.: Em homenagem, as melhores pessoas do mundo, as que não me deixam ser um ou dois, mas sempre três. Amanda e Gabriela, obrigada por tudo.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Sexta de Música #10 (na segunda-feira)

But he was looking at her, yeah all funny in the eye.
She said come on boy tell me what you're thinking,
Now don't be shy.
He said alright, I'll try.
All the stars up in the sky and the leaves in the trees,
All the broken bits that make you trip up and grassy bits in between.
All the matter in the world is how much I like you.




quinta-feira, 24 de março de 2011

Quinta de Poesia #10

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que se ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade
É servir a quem vence o vencedor,
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade;
Se tão contrário a si é o mesmo amor?

Luís de Camões

sábado, 5 de março de 2011

O que vai e o que fica.

Talvez a ficha só tenha caído agora, quase dois meses depois. Suas coisas estão sendo doadas, tiradas de casa, levadas para um outro lugar qualquer, eu sei, é só mais uma maneira de tentar superar, mas não adianta. Cada lugar da casa ainda tem seu jeito, seu cheiro, se eu fechar os olhos posso vê-lo aqui, mas eu não quero fazê-lo. Se eu fechar os olhos, uma hora terei que abri-los e não poderia suportar perdê-lo outro vez.
De fato, só percebi a sua importância quando me contaram da sua partida. Também pudera, mal tivemos tempo de nos conhecer, mas eu sei que você me entendia. Entendia meus sonhos, minhas conquistas, minhas alegrias e eu tentava compreender sua dor, sua superação.
No fim, só me restaram perguntas e promessas. Mas agora não quero mais saber as respostas, afinal de nada valerão, mas as promessas que foram feitas, onde quer que esteja, tenha a certeza de que serão cumpridas.

P.S.: O texto foi feito sem rascunhos e de coração aberto.
P.S.²: Em memória de um velho amigo, que deixará (e já está deixando) saudades. Marcelo, obrigada por tudo.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Sexta de Música #9


And I wanna fall in love with you again
I don't have to try
It's so easy
Who needs to pretend


sábado, 22 de janeiro de 2011

Quinta de poesia #9 (no sábado)

Annabel Lee

Foi há muitos e muitos anos já,
Num reino ao pé do mar.
Como sabeis todos, vivia lá
Aquela que eu soube amar;
E vivia sem outro pensamento
Que amar-me e eu a adorar.
Eu era criança e ela era criança,
Neste reino ao pé do mar;
Mas o nosso amor era mais que amor --
O meu e o dela a amar;
Um amor que os anjos do céu vieram
a ambos nós invejar.
E foi esta a razão por que, há muitos anos,
Neste reino ao pé do mar,
Um vento saiu duma nuvem, gelando
A linda que eu soube amar;
E o seu parente fidalgo veio
De longe a me a tirar,
Para a fechar num sepulcro
Neste reino ao pé do mar.
E os anjos, menos felizes no céu,
Ainda a nos invejar...
Sim, foi essa a razão (como sabem todos,
Neste reino ao pé do mar)
Que o vento saiu da nuvem de noite
Gelando e matando a que eu soube amar.
Mas o nosso amor era mais que o amor
De muitos mais velhos a amar,
De muitos de mais meditar,
E nem os anjos do céu lá em cima,
Nem demônios debaixo do mar
Poderão separar a minha alma da alma
Da linda que eu soube amar.
Porque os luares tristonhos só me trazem sonhos
Da linda que eu soube amar;
E as estrelas nos ares só me lembram olhares
Da linda que eu soube amar;
E assim 'stou deitado toda a noite ao lado
Do meu anjo, meu anjo, meu sonho e meu fado,
No sepulcro ao pé do mar,
Ao pé do murmúrio do mar.

Edgar Allan Poe

domingo, 16 de janeiro de 2011

Parênteses.

Então, um momento de clareza.

Nascer ( ) Morrer.
O que fica entre esses dois acontecimentos? O que acontece entre os parênteses? Talvez não seja importante, talvez defina tudo.
Três A's. Eles definem muita coisa:

- Alegria
- Amizade
- Amor

Mas será que todos eles são importantes? Será que é necessário ter todos pra conquistar a felicidade plena? E a tal felicidade, é mesmo necessária ou se pode viver sem?
Talvez a resposta seja justamente a pergunta. Talvez entre os parênteses só aja incerteza e perguntas que nunca serão respondidas. Talvez isso seja viver.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Sexta de Música #8 (na quarta)


Aprendi a só pensar em mim
Seja forte e tente alcançar
Aprendi a só lhe amar assim
Desde sempre
Desde já