sexta-feira, 27 de maio de 2011

Quinta de Poesia #13

Reflexo

As coisas acontecem assim em minha vida: vêm de um algum lugar estreito e chuvoso, a cavalo, a galope, entram em mim, não sei como, e se espalham, se derretem, se fundem, se magmam. Amanhecem, ensolaram. Depois me habitam, não estando, mas sendo. As coisas dentro de mim não são mais coisas, apenas são. E ficam. E ficam.

Ficam escondidas, mas ficam.

Ficam retidas, amalgamadas, empedram, incrustam.

De vez em quando, vê-se um de seus raios em meio a uma minha gargalhada.

Mas é um reflexo, apenas. Um reflexo, como um soluço, como um suspiro.

Como uma gargalhada.

À tarde, elas se vestem em luvas. E às vezes me arranham, e às vezes me afagam.

Não tenho medo, exatamente. Nada é exato dentro de mim.

Dentro de mim, não há ciência, nem soft sciences, nem hard.

Aqui dentro, nada hard, mas tudo arde.

Uma fome tenra, tão tenra que nem existe.

Uma fome talvez transformada em lava.

Um impulso amarrado em rédeas que não levo.

Que amarras? Tudo arde.

Sonhos dilatados em uma réstia de essência

São a extensão do meu céu, e povoam minhas noites

Não recuso paixão, e não recuso permanência.


Alessandra Siedschlag

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