domingo, 27 de maio de 2012

Paranoia.

Sentia-se exposta.
Não podia abrir a geladeira, não podia tomar banho, não podia ver televisão.
Não podia cantar, falar ao telefone ou ler um livro.
Não podia se despir, não podia namorar, não podia gritar.
Não podia sentir, reclamar, muito menos sentar de perna aberta.
Não podia matar, não podia ir ao banheiro, não podia falar palavrão.
Não podia usar drogas, protestar ou se expôr.
Não podia dormir, não podia sonhar, não podia amar.
Nada podia.
Haveria sempre alguém lhe julgando.
Haveria sempre alguém lhe observando.
Mas ela não estava segura e protegida?
Aah, não. Não com esse teto de vidro.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

23.05.2012.

Vinte e três de maio de dois mil e doze.

Se eu fecho os olhos consigo me recordar de cada momento.
Com o Black apoiado nos lábios, esperando ser aceso, eu te olhava. Enquanto o acendia, você reclamava, mas eu só fechei os olhos e senti o gosto amargo do cigarro em minha boca.
E então eu falei. Usei todos os palavrões possíveis, citei todas as nossas músicas, joguei na sua frente nosso passado e minhas dúvidas sobre o futuro.
Acho que me perdi.
Acho que te perdi.
A razão, essa com certeza, eu perdi.
Eu não podia fumar, não podia "falar palavras de baixo calão", não podia ser irônico (no papel eu posso?). Eu só queria ser eu mesmo, ok?! Ou talvez outra pessoa, qualquer uma, que significasse algo para você. Mas sempre fui um ninguém.
Você queria que eu fosse diferente e acho que nessa briga eu consegui ser, te mostrei tudo o que pensava e quem eu realmente era.
Eu definitivamente te perdi.
Cada frase que usava, cada cigarro que eu acendia, cada sorriso irônico que eu dava, fazia você se afastar mais. Até que se afastou para sempre.
Mas essa briga, eu nunca esqueci.
E você, eu nunca esqueci.

Para sempre teu,
Lucas.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Sexta de Música #33

E assim a gente não sai
que esse sofá tá bom demais
Deixa o verão pra mais tarde

quinta-feira, 10 de maio de 2012

(Re) Descoberta.

Só hoje percebo como enxergava, chamava e sentia tudo de forma errônea.
Amor não é a palavra certa. O correto seria utilizar seu nome para definir esse sentimento. E não, ele não pode ser confundido com paixão.
Paixão na verdade é o calor que sobe pela minha espinha quando me beija o pescoço, mas quando você se vai é um frio que percorre todo o meu corpo. Esse frio é a saudade.
Saudade porque me viciei em você. Vicio é o fato de eu sempre querer mais de você, mesmo quando acabei de ter tudo.
Já ciúmes é o que sinto com os sorrisos ou olhares que você dedica à outras que não à mim.
Músicas são aqueles acordes desafinados que saem do seu violão de madrugada. Amarante sentiria inveja se ouvisse sua voz rouca cantando "Deixa o Verão" no sofá para me acordar. Aliás, sofá é aonde nos transformamos em um só, onde nossos corpos se transformam em ondas e eu me perco no oceano. O oceano, na verdade, são seus olhos e toda vez que olho dentro deles, perco o ar, me afogo.
Casa agora é o peito teu, que se transformou em meu abrigo.
Ah, você! Mudou todo meu mundo. E agora, só agora, sei o real nome das coisas e percebo que em todo canto há um pedaço teu. Já eu, sou inteiramente tua.

Quinta de Poesia #33


Loucos e Santos

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.
Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero resposta, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco.
Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.
Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice!
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou.
Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.
Oscar Wilde