terça-feira, 2 de agosto de 2011

Cecília.

"Querida irmã,
a vida na cidade grande é dura. Não há cor. Há pecado por todo o lado, ninguém se respeita, ninguém se importa, ninguém se cumprimenta, todos são solitários.
Eu me pergunto aonde está a música, mas não há. Eu me pergunto aonde está a inocência, mas ela só é encontrada em quem acaba de nascer.
É difícil, irmã, para uma garota do interior se acostumar com a cidade. Eu sinto sua falta. Eu sinto falta da pequena igreja, da conversa na praça, de deixar a porta aberta, das pessoas sem malícia. Mas principalmente, eu sinto falta do céu e das estrelas. Os prédios me impedem de ver o céu, o cinza e a poluição impedem que as estrelas apareçam.
Sabe, acho que desaprendi a ser feliz aqui na cidade. É mais fácil me misturar ao humor sórdido e cinza daqui do que sorrir e assumir uma posição feliz e colorida.
As pessoas repugnam a cor. Isso me assusta.
Não há futuro, irmã. Não há salvação para essas pessoas ou para essa cidade.
Desculpe irmã, mas depois de ver o mundo como ele realmente o é, não vejo motivos para continuar aqui.
Desculpe irmã, mas essa será a última vez que terá noticias de mim, pois eu pecarei. Pecarei em uma forma de me encontrar com Ele e me livrar dessa imundice de mundo.
Por favor, não chore com minha partida, um dia nos encontraremos e em um lugar muito melhor.
Com amor,
Cecília."

E a cidade se calou. Houve um longo silêncio entre uma onda e outra, enquanto Cecília caía. Mas ela estava certa, ninguém se importava. A cidade voltava para os seus barulhos, a sua falta de cor e os seus pecados, enquanto Cecília ia de encontro à sua felicidade.

Nenhum comentário: