quarta-feira, 11 de julho de 2012

Memórias de Penteadeira IV.

Escovava meus cabelos sentada e encarando a mim mesma naquela penteadeira que compramos no antiquário de Santa Teresa. O apreço que tenho por essa penteadeira é o mesmo que tenho de você, por isso desde que você se foi gasto horas do meu dia escovando os cabelos em frente à ela. Era como naquele livro "Cem escovadas antes de dormir", mas era o dia inteiro e eu perdi a conta quando passaram de duzentas.
E eu escovava, escovava, escovava. Foi quando a cortina voou e o sol lentamente entrou pela janela. Primeiro um raio de luz no chão que saiu dançando pelo quarto. Cama, cabeceira, porta-retrato e por fim, a penteadeira. Tudo então, se iluminou.
Olhei ao redor e mais raios de sol dançavam pelo quarto. Quando um deles me tocou, vieram as cores.
O quarto que antes era preto e branco agora parecia um arco-íris. A penteadeira com aquela cor sem graça, se transformara completamente e eu com ela.
Eu sabia que agora poderia parar de beber, sair de casa e nunca mais ouvir aquela canção. Havia cor no mundo de novo. No meu mundo.
Foi como se o sol não tivesse invadido meu quarto, mas a mim. Me iluminou e me aqueceu.
Depois desse dia nunca mais pensei em você. A penteadeira? Vendi para um antiquário qualquer.



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